Uma pesquisa da empresa de recrutamento Catho mostrou que um MBA pode acarretar um aumento salarial de até 31%, dependendo do nível hierárquico do profissional. Estudar fora do país traz vantagens adicionais
"Temos carência de profissionais fluentes em inglês, e o aluno de MBA é forçado a fazer apresentações e desenvolver projetos nesse idioma", diz Luís Testa, executivo responsável pela área de estratégia e pesquisa da Catho. Um estudo da empresa mundial de recrutamento Robert Ralf revelou que um MBA no currículo do candidato é muito relevante para 42% dos contratantes. "Há empresas no país que vão em busca desses profissionais quando eles ainda estão lá fora", diz Fernando Mantovani, diretor da Robert Half no Brasil. Para saber como se preparar, onde estudar e como financiar os estudos, VEJA conversou com especialistas que treinam candidatos para as seleções de MBA no exterior.
MBA X MESTRADO A diferença entre o Master Business Administration (MBA) e um mestrado é o foco no mercado de trabalho. "0 MBA é voltado para quem quer ser executivo numa empresa ou num banco, pois permite uma formação administrativa e uma visão de negócios. 0 mestrado é indicado para quem pretende seguir carreira acadêmica ou trabalhar com análise e teoria nas empresas", explica Miriam Viniskofske, sócia da The Point, empresa carioca que prepara alunos para as seleções de MBA no exterior.
A idade ideal Não há um limite de idade estabelecido, mas nos Estados Unidos a média é de 27 anos - quando o candidato já tem pelo menos três anos de experiência profissional. "Quem passou dos 35 e tem mais de dez anos de carreira não entra", resume Ricardo Betti, sócio da MBA Empresarial, de São Paulo. Na Europa, é comum encontrar alunos mais velhos. "0 candidato pode ter 40 anos, desde que não esteja há muito tempo sem estudar", diz o espanhol Eduardo Melero, subdiretor do MBA da Universidade Carlos III, de Madri.
Os melhores cursos São cinco os principais rankings das escolas de negócios. Na relação da revista inglesa The Economist, lidera a Booth School of Business, da Universidade de Chicago. A Universidade Harvard encabeça as listas da Forbes e do U.S. News (que avaliam apenas instituições americanas) e a classificação global do jornal inglês Financial Times. Já o ranking internacional da Bloomberg Businessweek traz a London Business School em primeiro lugar. Os rankings são importantes, mas não devem ser fator determinante. "Há cursos e universidades com excelente estrutura que não estão entre os cinco mais cotados. É preciso pesquisar sobre a instituição pensando no próprio perfil", explica Minam Viniskofske, da The Point
Estados Unidos X Europa "Na Europa, os programas têm duração de um ano, e não se prevê trabalhar nas férias de verão, como acontece nos Estados Unidos. Para quem ainda não definiu o rumo que quer dar à carreira, recomendamos os Estados Unidos, pois o aluno tem maior tempo de reflexão - dois anos - e a oportunidade de trabalhar durante as férias. Para quem tem um objetivo claro, a Europa pode permitir uma volta mais rápida ao mercado de trabalho", explica o americano Darrin Kerr, sócio da empresa de treinamento FK Partners. "Os cursos europeus atraem alunos com maior experiência profissional e diversidade cultural - há europeus de vários países, além de muitos asiáticos e até americanos", diz Daniela de Souza Mendez, diretora da espanhola IE Business School no Brasil.
A seleção Antes de se candidatar a uma vaga nas principais universidades, é preciso providenciar o Toefl, certificado de proficiência em inglês (na Europa, há universidades que também aceitam o lelts), e também fazer um teste chamado Graduate Management Admission Test (Gmat). A parada é dura. No Toefl, é obrigatório atingir uma nota acima de 100 pontos de um total de 120. Em Harvard, por exemplo, são necessários 109. O Gmat, utilizado por mais de 6.000 instituições, avalia habilidades matemáticas, verbais e de leitura e escrita analítica. Em um total de 800 pontos, os candidatos devem garantir ao menos 700 para pleitear uma vaga. "Além de realizarem as provas, os candidatos enviam relatos sobre as experiências de liderança e os projetos dos quais participaram. Essa é a parte mais importante do processo", diz Paulo César Moraes, sócio da Philadelphia Consulting. É preciso ainda enviar cartas de recomendação de gestores e passar por entrevista, normalmente feita no Brasil.
Come pagar Muitos estudantes recorrem a bolsas e financiamento. Em Harvard, por exemplo, 65% dos alunos recebem algum tipo de assistência financeira para bancar o custo anual, que pode chegar a 95.100 dólares (cerca de 214.000 reais) -incluindo-se aí o valor do curso (58.875 dólares, ou 133.000 reais) mais o seguro-saúde e a moradia individual. Os alunos estrangeiros podem obter crédito numa instituição ligada à própria universidade, sem precisar de fiador nos Estados Unidos. A pedido de VEJA, o consultor financeiro Conrado Navarro, autor do livro Dinheiro É um Santo Remédio, comparou o custo de financiar parte do valor na própria universidade e em um banco no Brasil.
Harvard Unwersity Employees Credit Union Valor financiado: 50.000 dólares (113.000 reais) Prazo: 180 meses Juros: 6,75% ao ano Dívida ao final: 79.000 dólares (178.000 reais) Valor das parcelas: 440 dólares (990 reais)
Crédito direto ao consumidor (CDC) voltado a estudas no Brasil Valor financiado: 113.000 reais Prazo: 48 meses Juros: 33,78% ao ano Dívida ao final: 356.373,71 reais Valor das parcelas: 3.976,37 reais
MBA E TRABALHO O engenheiro eletricista carioca Felipe Castro, de 28 anos, enfrentou um duro processo seletivo antes de se matricular em Harvard. "Eu queria estudar numa das dez melhores universidades", diz. Durante as férias, o engenheiro não terá descanso: vai encarar um trabalho temporário em uma empresa de infraestrutura de telecomunicações nos Estados Unidos.
De olho no Canadá Na última década, o porcentual de brasileiros enviados pelas agências de intercâmbio para estudar no exterior cresceu quase 500% - passou de 34.000, em 2003, para mais de 200.000, em 2013. E, segundo uma pesquisa encomendada pela Brazilian Educational & Language Travel Association (Belta), o destino preferido pelos brasileiros foi o Canadá. O país foi escolhido por 60% das pessoas que buscavam cursos de idiomas e 42,5% dos estudantes de high school, equivalente ao ensino médio. "As escolas do Canadá são excelentes e os custos, menores que nos Estados Unidos", diz Rosa Maria Troes, presidente da Canadá Intercâmbio. Um curso de idiomas de quatro semanas com acomodação em casa de família, incluindo café da manhã e jantar, pode custar a partir de 4.300 reais, enquanto nos Estados Unidos o total começaria em 5.800 reais. As cidades mais procuradas no Canadá são Vancouver, Toronto e Montreal (essa última por quem quer estudar francês). As informações sobre o visto para o país estão no site vfsglobal.ca/canada/Brazil.
Bolsa para estudar lá fora Para concorrer a bolsas de estudos para cursar graduação, mestrado, doutorado ou MBA no exterior, o aluno pode dirigir-se diretamente às universidades - que usam recursos próprios ou oriundos de parcerias com organizações como a Fundação Lemann - ou recorrer a instituições no Brasil. A seguir, as duas principais entidades independentes que oferecem bolsas a brasileiros.
Instituto Ling: em dezenove anos, já concedeu 205 bolsas de pós-graduação. Até o dia 9 de maio deste ano, as inscrições estavam abertas para quem queria pleitear uma bolsa para MBA ou mestrado em administração pública, direito e engenharia. Para concorrer, o estudante já deve ter sido aprovado numa instituição de primeira linha e precisa comprovar que não pode bancar o curso sozinho. O valor é parcial e pode variar de acordo com a necessidade do aluno. "Ele pode se candidatar mesmo que já tenha bolsa da universidade ou o curso todo financiado, e então utilizar o recurso para despesas pessoais, por exemplo", diz a coordenadora Sandra Moscovich.
Fundação Estudar: oferece bolsas desde graduação até pós-doutorado. Aqui, a falta de recursos do aluno não é o primordial. "Não analisamos somente a condição financeira do candidato, mas principalmente o seu potencial", explica Mariel Vieira, responsável pelo processo de recrutamento e seleção do programa de bolsas da fundação. Para este ano, serão distribuídas cerca de quarenta bolsas. O processo seletivo deve ser aberto em outubro, e podem participar pessoas com idade entre 16 e 34 anos.
Universidade de Coimbra via Enem A instituição, uma das mais tradicionais de Portugal, é a primeira fora do Brasil a aceitar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na seleção de estudantes para a graduação. Quem quiser se candidatar a uma vaga pode utilizar as notas de 2011 a 2013 em substituição aos exames portugueses de seleção. Ao todo são 622 vagas, em 45 cursos. Entre taxas de inscrição e matrícula, gastam-se 155 euros (cerca de 500 reais). A mensalidade custa 700 euros (2.200 reais). O ano letivo começa no segundo semestre, e as inscrições terminam em agosto.
Fonte: Revista Veja - 07/05/2014