A maior ave de rapina do Brasil encontra abrigo seguro para reprodução na RNV
?A Reserva Natural Vale, em Linhares (ES), ganhou mais um morador ilustre. Pela primeira vez os pesquisadores registraram o nascimento de um filhote de harpia na área.
A harpia, ou gavião-real (Harpia harpyja), é uma espécie ameaçada de extinção, classificada como Criticamente em Perigo no Espírito Santo e Vulnerável em todo o território brasileiro. Essa águia apresenta um longo ciclo reprodutivo, que pode durar de dois a três anos.
O ninho foi descoberto em 2016 pelo guia de observação de aves Justiniano Magnago. E desde março de 2017 uma câmera instalada pelos pesquisadores do Projeto Harpia na copa de uma árvore monitora o comportamento das harpias no ninho. A câmera flagrou o namoro do casal em várias oportunidades. A fêmea chegou a colocar ovos por três vezes e chocá-los, mas os filhotes não nasceram. Em março de 2019, finalmente, um filhote vingou.
Com pais protetores, o filhote deve iniciar seus primeiros voos com cerca de cinco meses de idade. Ele só começará a explorar a floresta dentro de um ano e deixará definitivamente o cuidado dos pais no ninho com aproximadamente dois anos.
"Geralmente, no ciclo reprodutivo da harpia um ou dois ovos são incubados, mas apenas um sobrevive. O período de incubação é de aproximadamente 56 dias, função que cabe à fêmea, enquanto o macho leva comida para ela no ninho", explica o pesquisador do projeto e professor da Universidade Federal do Espírito Santo, Aureo Banhos.
A espécie se alimenta principalmente de animais arborícolas como macacos e bichos-preguiça, por vezes capturando indivíduos com mesmo peso e tamanho. As harpias adultas podem medir de 90 a 105 cm de comprimento, com até 2 metros de envergadura, e pesar de 4 a 5 kg (machos) ou 7 a 9 kg (fêmeas). O indivíduo só atinge a maturidade sexual com mais de cinco anos de idade.
A Reserva Natural Vale abriga dois casais de harpias conhecidos. Desde 2010, um segundo ninho é monitorado pelo Projeto Harpia, entretanto, não foi registrado sucesso nas tentativas de reprodução do casal. Segundo o pesquisador Gustavo Magnago, a reserva deve abrigar outros casais de harpias e a equipe do projeto está procurando os novos ninhos. "Não é fácil encontrar os ninhos, muitas vezes construídos a mais de 30 metros de altura, na mata fechada", afirma Gustavo. Os ninhos podem chegar a 1,9 m de comprimento por 2 m de largura, em árvores majestosas como jequitibás-rosa e embiruçus.
Segundo os pesquisadores, o registro dessa espécie de predador de topo de cadeia ecológica se reproduzindo na Reserva Natural Vale é um resultado importante e satisfatório dos esforços para preservação de uma das maiores áreas protegidas de Mata Atlântica, uma vez que esses animais precisam de áreas com boa qualidade e uma ampla diversidade de animais para se alimentar.
Curiosidades sobre o gavião-real
Nome científico: Harpia harpyja
Nomes populares: gavião-real, harpia, uiraçu
Garras (hálux): 6 cm de comprimento que permitem ser a mais poderosa ave de rapina do mundo
Tamanho: 1,05 m comprimento total do corpo
Envergadura: quando adulto pode atingir 2 m de uma ponta a outra das asas
Peso: 4 a 5 Kg (macho) e 7 a 9 Kg (fêmea)
Período de atividade: a espécie tem hábitos diurnos, ou seja, desenvolve suas atividades durante o dia.
Coloração das penas: quando adulto, a cabeça torna-se cinza, duas penas evidentes no penacho e uma faixa de penas pretas no pescoço. Cabeça, lados do pescoço e garganta são cinza-claro. O dorso e a parte superior das asas têm coloração preta. Não há dimorfismo sexual quanto à coloração
Alimentação: mamíferos de médio e pequeno porte, tais como preguiças e primatas
Reprodução: um filhote a cada 2,5 anos ou três anos
Ameaças: desmatamento e caça
Conservação da espécie
O Projeto Harpia monitora mais de 60 ninhos de gavião-real na Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica. No Espírito Santo e Sul da Bahia, o Projeto Harpia mantém um núcleo que monitora a população da espécie na área do Corredor Central da Mata Atlântica.
Reserva Natural Vale
A Vale mantém em Linhares, no Norte do Espírito Santo, uma das maiores áreas protegidas de Mata Atlântica do país. Com aproximadamente 23 mil hectares, a Reserva Natural Vale é um dos últimos grandes remanescentes da Floresta de Tabuleiro, uma das formações florestais atualmente mais ameaçadas do Bioma Mata Atlântica. Devido à importante atuação nas atividades de conservação, pesquisa e uso sustentável dos recursos naturais, a Reserva é classificada como Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, título concedido em 2008 pelo Programa MaB (Man and Biosphera, na sigla em Inglês), da Unesco.
A RNV é considerada um dos hotspots mundiais de biodiversidade, proporcionando um ambiente favorável para a ocorrência de espécies ameaçadas e indicadoras de qualidade ambiental. Desde que foi adquirida pela Vale, nos anos 50, até o momento, foram catalogadas na Reserva cerca de 3 mil espécies vegetais, 1.478 morfoespécies de insetos e 102 espécies de mamíferos, além de 56 de anfíbios, 64 de répteis e 400 de aves.