Em meio ao processo que resultará na transferência do controle da família Batista para os asiáticos da Paper Excellence (PE), a Eldorado Brasil, produtora de celulose de eucalipto da J&F Investimentos, vai obter em 2017 o melhor resultado de seus cinco anos de operação. A depender do câmbio, o lucro líquido pode chegar a R$ 1 bilhão e, diante de sucessivos aumentos nos preços da matéria-prima, o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) deve ultrapassar R$ 2 bilhões, frente a pouco mais de R$ 1,5 bilhão em 2016.
Ainda há arestas a aparar relacionadas ao acordo de leniência de mais de R$ 10 bilhões firmado pela J&F com o Ministério Público Federal (MPF). Enquanto uma investigação interna não for concluída, a Eldorado não terá o aval do auditor independente nas suas demonstrações financeiras. Por essa razão, os dados trimestrais deste ano, incluindo os divulgados ontem à noite, vieram sem revisão. Com a conclusão da apuração nos próximos meses, é possível que o balanço de 2017 venha auditado.
Isso não impediu a evolução da venda da companhia à PE, sediada na Holanda e dos mesmos donos da Asia Pulp and Paper (APP). Neste momento, a Eldorado se prepara para receber um novo presidente, na esteira da saída de José Carlos Grubisich do cargo, prevista para os próximos dias. A nova presidência deve ter caráter interino, já que o novo acionista deve indicar um executivo próprio ao assumir o controle da companhia. Por contrato, a PE tem até setembro do próximo ano para comprar 100% da Eldorado, mas tudo indica que isso vai ocorrer antes desse prazo.
Com a transação já bem encaminhada, o executivo não vê mais sentido se manter à frente da gestão da fabricante de celulose.
Nos próximos dias, a PE concluirá a compra da fatia de 17% dos fundos de pensão Petros e Funcef e, com isso, terá direito de indicar um nome ao conselho de administração. Ao fim da primeira etapa da operação, que avaliou a Eldorado em R$ 15 bilhões incluindo cerca de R$ 7,5 bilhões de dívida líquida, a PE terá 34,45% da empresa - os primeiros 13% comprados da J&F, a parcela dos fundos e mais 4,5% detidos diretamente pela holding dos Batista.
Nada impede que a PE amplie sua fatia antes mesmo de sacramentar a aquisição do controle, levando os quase 2% pertencentes ao FIP Olímpia, de Grubisich. Numa conta aproximada, hoje o executivo deveria receber algo em torno de R$ 150 milhões por suas ações.
Grubisich, que completará 61 anos em fevereiro e ocupa assentos nos conselhos das multinacionais Vallourec e Halliburton, ainda não revela qual caminho seguirá a partir de 28 de novembro, quando encerra o ciclo de seis anos à frente da Eldorado. Num primeiro momento, o foco estará em sacramentar a venda de suas ações à PE e investir os recursos do FIP Olímpia.
Olhando em retrospectiva, ele relatou que garantir o financiamento do projeto e assegurar a construção da fábrica da Eldorado dentro do prazo e do orçamento foram os primeiros desafios como presidente da empresa. Posicioná-la no mercado global e gerir passivos elevados - no fim de 2013, a dívida líquida equivalia a quase 15 vezes o resultado operacional - também foram tarefas relevantes. Em setembro, a alavancagem financeira havia caído a 3,8 vezes.
Mais recentemente, o executivo viu seu nome ser citado em delações premiadas de ex-executivos da Odebrecht, relacionadas a sua passagem pela Braskem, e, agora, na colaboração do doleiro Lúcio Funaro, que intermediou contratos de empresas da J&F, incluindo a Eldorado, com a Caixa. Em sua defesa, Grubisich alega que a modelagem das linhas de financiamento da Eldorado foram acertadas em 2011, quando ele ainda não estava na empresa - sua chegada ocorreu em fevereiro de 2012. Em nenhuma situação, ele diz ter sido convocado ou conduzido a depor pela Polícia Federal.
De janeiro a setembro, a Eldorado teve lucro de R$ 712,9 milhões, quase três vezes o ganho apurado no mesmo intervalo do ano passado, diante da melhora operacional e de ganhos na linha financeira relacionados à variação cambial. O Ebitda de R$ 1,62 bilhão, por sua vez, já ultrapassou o resultado de todo o exercício anterior.
A redução nos custos de produção e a melhora dos preços da fibra curta explicam esse desempenho. Depois de dez reajustes neste ano, Grubisich declarou que via espaço para novo reajuste da celulose de eucalipto em dezembro. A alta pode chegar a US$ 50 a tonelada na Europa e na América do Norte e a US$ 30 por tonelada na a US$ 50 a tonelada na Europa e na América do Norte e a US$ 30 por tonelada na China. Ontem, a Fibria anunciou reajuste de US$ 30 a tonelada em todos o mercados onde atua.
"O mercado está em um momento muito positivo", afirmou. Conforme o executivo, a demanda por fibra curta permanece forte, os preços do papel estão em alta na China - o que dá sustentação à matéria-prima - e o governo chinês limitou as importações de reciclados, impulsionando a procura por fibra virgem. Juntos, esses fatores permitiram o forte avanço das cotações neste ano.
No primeiro trimestre, porém, pode haver alguma acomodação até o Ano Novo Chinês, que tradicionalmente reduz a atividade comercial no país. Na volta do feriado, o ritmo de retomada das encomendas vai indicar a direção dos preços nos meses seguintes. "Ainda assim, 2018 começa de maneira bastante favorável", observou.
Conforme Grubisich, as conversas na London Pulp Week, que aconteceu na semana passada, refletiram o cenário positivo para os produtores e se concentraram na redução das taxas de desconto concedidas nos contratos anuais. "Antes, se discutia qual seria o aumento no desconto", contou. Diante da postura dos compradores de garantir acesso à matéria-prima, os produtores estão buscando redução de dois a quatro pontos percentuais nessa taxa.
Do lado da oferta, lembrou o executivo, não haverá adição de capacidade relevante pelo menos até 2020, num sinal positivo para os preços da fibra curta. "A indústria terá retornos elevados até pelo menos 2023, uma janela que não se via há muito tempo", comentou.