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Publicado: 29/08/2017 00:00h

Com commodities em alta, exportação do país cresce acima da média global

Com commodities em alta, exportação do país cresce acima da média global

Responsável por superávits comerciais recordes em 2017, o crescimento vigoroso das exportações brasileiras no primeiro semestre superou em mais de dez pontos percentuais o ritmo de alta das vendas externas da maior parte do comércio internacional. De janeiro a junho o valor dos embarques brasileiros aumentou 19,34% contra iguais meses de 2016. No mesmo período as exportações totais mundiais cresceram 8,5%. Os dados são da Organização Mundial do Comércio (OMC), que reúne os dados mensais de exportação e importação divulgados por 70 economias responsáveis por 90% do comércio mundial.

A taxa de crescimento das exportações brasileiras superou a de países como Estados Unidos e China, que tiveram alta de 6,7% e de 8,5%, respectivamente, na mesma comparação. Os países da União Europeia avançaram 4,7%, com alta de 3,8% no comércio intrabloco e de 6,3% na exportação para outros países. No México, as vendas cresceram 10,4%.

Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior e sócio da Barral M Jorge Advogados, diz que a pauta de exportação brasileira contribui para esse desempenho. “Nossa exportação é formada principalmente por commodities que passaram por elevação de preço ou que tiveram alta de volume, por conta de safra maior”, afirma Barral.

Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), dos US$ 107,7 bilhões embarcados pelo Brasil no primeiro semestre, mais de 30% – US$ 34,8 bilhões – foram em minério de ferro, petróleo e soja. Enquanto a exportação do grão subiu 20% de janeiro a junho deste ano em relação a iguais meses de 2016, a de minério quase dobrou, com alta de US$ 4,7 bilhões para US$ 8,9 bilhões. A venda de petróleo mais do que dobrou no mesmo período, de US$ 4 bilhões para US$ 9,2 bilhões. Mesmo levando em consideração a sazonalidade na venda da soja, cujos embarques devem perdurar de forma mais intensa até setembro, com certeza, diz Barral, o desempenho garante um bom resultado para a balança comercial do ano.

Até julho, a balança comercial acumulou superávit de US$ 42,6 bilhões, resultado recorde para o período e bem superior aos US$ 28, 2 bilhões de iguais meses do ano passado. Em 2016 o saldo comercial positivo foi o maior da série histórica para um ano fechado, de US$ 47, 7 bilhões. Analistas avaliam que a balança feche 2017 com novo superávit recorde.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que a entidade elevou de US$ 51,6 bilhões – que já seria um recorde – para US$ 63,2 bilhões a projeção de superávit para 2017, resultado de US$ 209 bilhões em exportações e US$ 145,8 bilhões em importação. “O valor das importações é o mesmo. O aumento de superávit estimado para este ano deu-se pelo lado das exportações, que devem ficar maiores que as projetadas inicialmente.” A AEB estima que a exportação avançará 12,8% em relação ao ano passado, puxada pelos básicos, que deverão subir 18,4%.

Castro pondera que a alta da exportações este ano representa, em parte, uma recuperação do que foi perdido no passado, já que chega logo depois de um biênio em que os embarques brasileiros caíram mais que os dos demais países. Segundo dados da OMC, em 2016 as exportações totais caíram 2,5% em relação ao ano anterior enquanto as do Brasil recuaram 3,1%. De 2014 para 2015 os embarques brasileiros caíram 7,9% contra 3,2% do total dos países acompanhados pela OMC.

Embora o desempenho aponte para um saldo comercial vigoroso para este ano, Castro alerta para dados que podem afetar o desempenho dos embarques brasileiros nos próximos anos.

“Um deles é a China, que numa sinalização para melhorar as relações comerciais com os Estados Unidos, abriu um processo antidumping contra o frango brasileiro”, diz Castro. Para ele, isso pode significar que novas investigações serão abertas contra produtos vendidos para o país asiático que é hoje o maior parceiro comercial do Brasil.

Para Castro, trata-se de uma estratégia chinesa para que os manufaturados do país encontrem portas abertas para o mercado americano. Com o processo antidumping contra o Brasil, privilegia-se a importação de frango origem EUA. Logicamente, diz Castro, isso não poderá ser feito para todos os produtos. Ele exemplifica com a soja. O Brasil concorre com os Estados Unidos no fornecimento do grão para o país asiático, mas nem um nem outro podem suprir toda a demanda, além da questão da sazonalidade.

Barral lembra que não somente os básicos contribuíram para a elevação das exportações. Na tentativa de ocupar a capacidade ociosa e de compensar a falta de demanda doméstica, as indústrias aumentaram o esforço de exportação. De janeiro a julho, segundo o Mdic, o valor total da venda de manufaturados ao exterior cresceu 10%.

Na indústria de transformação, o resultado não foi uniforme para todos os setores, mas de 23 setores da de atividade pesquisados acompanhados pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), dez elevaram a quantidade exportada no período. Em cinco dos dez setores houve também elevação da produção física.

Entre os setores destaca-se o automotivo, incluindo reboques e carrocerias, cujo volume de embarques cresceu 31,8% no primeiro semestre de 2017, com alta de 11,7% na produção física. Com o desempenho, o setor avançou de 6,3% do valor da pauta de exportação total de janeiro a julho de 2016 para 7,3% em iguais meses deste ano, segundo a Funcex.

Castro lembra, porém, que parte importante da exportação de manufaturados brasileira vai para países da América Latina. “É bom lembrar que a demanda desses países depende também do comportamento de commodities. Assim como o Brasil, eles foram beneficiados com a alta de preços dos básicos, o que rendeu divisas para importar. Se esses preços caírem, cai também a importação deles.”

No caso dos veículos, é preciso lembrar que nosso principal mercado é o argentino. A venda de automóveis ao país vizinho aumentou de US$ 1,9 bilhão de janeiro a julho do ano passado para US$ 2,7 bilhões em iguais meses deste ano.

Em termos nominais, diz Castro, há elevação considerável, mas na verdade as compras de veículos pelos argentinos cresceram em ritmo menor que a dos demais países. No acumulado até julho do ano passado, a Argentina comprou 77% dos automóveis embarcados pelo Brasil. Nos mesmos meses deste ano a fatia caiu para 71%. Para ele, isso é um reflexo da balança bilateral, com déficit para o lado argentino, o que pode afetar as exportações brasileiras para o país vizinho no próximo ano.


Fonte: Valor Econômico
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