O plano de reestruturação societária foi aprovado em junho e agora passa por uma fase de conversão voluntária de ações preferencialistas em ordinaristas
Com a ascensão da Vale ao mais alto nível de governança da B3 e diante de novas medidas estratégicas para alavancar resultados, a mineradora acredita ser possível ampliar a base de acionistas, atingindo novos perfis, como asiáticos e fundos mineração e metais.
A inclusão da Vale no Novo Mercado, como parte de um amplo plano de pulverização do bloco de controle atual da companhia, será um pontapé decisivo para a empresa afugentar alguns riscos que hoje estão atrelados a ela, disse o diretor-executivo de Finanças e de Relações com Investidores da mineradora, Luciano Siani, ao Reuters Latin American Investment Summit.
"De modo geral, a expectativa é que com a melhoria da governança você atraia mais investidores", afirmou Siani, ao receber a reportagem da Reuters para uma entrevista em um dos atuais escritórios da empresa, no Rio de Janeiro.
O executivo frisou que a empresa, maior produtora global de minério de ferro e de níquel, é destino certo para investidores de Brasil e mercados emergentes, mas ainda não é garantida na carteira daqueles que investem nos principais produtos da mineradora ou daqueles que atuam na Ásia, onde estão seus maiores clientes.
"Quando você olha os chamados fundos de 'mining and metals', nesses a gente tem um caminho para percorrer, porque existe um reconhecimento da Vale, mas não é como nós gostaríamos", declarou o diretor.
A Vale, segundo Siani, chegou a ter cerca de 500 mil acionistas, quando houve um boom de demanda da China, e hoje tem cerca de 200 mil. "Houve uma perda importante da base acionária que precisa ser revertida", ressaltou.
O perfil da mineradora também traz uma desvantagem em relação aos seus concorrentes, que têm perfis mais balanceados de acionistas, enquanto a Vale ainda é muito concentrada em América do Norte e Europa, destacou o diretor.
O plano de reestruturação societária foi aprovado em junho e agora passa por uma fase de conversão voluntária de ações preferencialistas em ordinaristas, cujo prazo de adesão termina na sexta-feira. A diretoria executiva, segundo Siani, está otimista em relação ao resultado, confiante de que os acionistas entendem que o processo ampliará governança e transparência, afastando a possibilidade de interferências do governo --representados hoje no bloco de controle-- e agregando valor à companhia.
"Aqueles que se anteciparam tiveram belos retornos, porque as ações da Vale triplicaram de valor nos últimos 18 meses", afirmou.
VELHOS RISCOS, NOVOS DESAFIOS
Como parte de um grande plano para alavancar os resultados da gigante do minério de ferro, Siani prevê apresentar novas estratégias no tradicional Vale Day, em Nova York, realizado em todo ano em dezembro.
O evento, que normalmente atualiza o "guidance" para os anos seguintes, deverá trazer também o resultado de uma análise profunda de todos os negócios da empresa, a primeira promessa do presidente, Fabio Schvartsman, que assumiu o cargo em maio.
O objetivo, segundo Siani, é buscar rentabilidade para todos os negócios, além do minério de ferro, e reduzir fatores de risco atrelados à Vale.
Com a alta exposição à variação dos preços do minério de ferro, as ações da Vale são muito influenciadas por oscilações dos preços da commodity. A ideia, segundo Siani, é que com o fortalecimento dos demais negócios e com a superação de alguns riscos, as ações possam oscilar menos em patamares maiores.
Dentre os planos que devem ser apresentados, a empresa deverá apontar para uma redução de dívida líquida mais profunda que a planejada para 2017. A meta atual é reduzir o endividamento para entre 15 bilhões e 17 bilhões de dólares ao final deste ano, ante os cerca de 22 bilhões de dólares registrados no fim do segundo trimestre. Para isso, a empresa prevê permanecer trabalhando para gerar caixa e com investimentos em queda, após a entrega do seu maior projeto de minério de ferro, em Canaã dos Carajás, que iniciou a operação comercial no início deste ano.
"Tendo em vista a imensa volatilidade das commodities, estamos inclinados certamente a trabalhar com níveis de dívida ainda inferiores, mas a companhia já pode dizer que é possível remunerar melhor os nossos acionistas", afirmou, evitando antecipar o patamar de desalavancagem que deverá ser buscado.
Para contribuir com a queda da dívida e atingir a meta deste ano, Siani citou a conclusão de desinvestimentos já anunciados e reiterou que haverá uma venda adicional de quatro navios nos próximos meses.
Além disso, Siani declarou que novos movimentos de fusões e aquisições estão totalmente descartados nos atuais planos.
"A Vale só vai pensar em M&A (sigla em inglês para fusões e aquisições) o dia que concluir o seu dever de casa, a gente ainda tem muito o que fazer na gestão de portfólio de ativos", afirmou.
RESULTADOS E PLANOS PARA O FUTURO
Com a conclusão e o sucesso dos planos para alavancar valor às ações da Vale, Siani destacou que a empresa poderá avaliar retornar ao mercado de fusões de aquisições de uma forma diferente.
"Um dia, se a Vale vier a fazer M&A, certamente será usando as suas próprias ações como moeda, o que aliás é algo que essa reestruturação permite", afirmou, explicando que a medida, se aplicada atualmente, poderia diluir o bloco controlador.
"Financiar M&A com dívida, usando seu próprio fluxo de caixa, é algo que a gente não pretende fazer", frisou.
Entretanto, para isso, Siani reiterou que as ações da Vale precisam ter uma "valorização adequada, o que não é o caso ainda hoje".
Outra mudança, segundo Siani, é que a empresa não voltará a investir nos chamados projetos "greenfield", totalmente novos e que carregam um maior volume de investimentos.
"O mundo não precisa mais de projetos greenfields na maioria das commodities", disse o diretor, destacando que expansões de projetos já existentes são mais baratas, mas mesmo assim a empresa será muito criteriosa daqui para frente.