A Vale completará 80 anos de fundação no ano que vem. São 30 anos a mais de vida além do registrado na sua "certidão de nascimento". O artigo 4 do primeiro estatuto publicado após a criação da empresa, em 1 de junho de 1942, era enfático: "o prazo de duração da companhia será de 50 (cinquenta) anos". No meio do caminho, porém, surgiu Carajás, e o prazo virou letra morta. No seguro da primeira carga vendida de minério de ferro, embarcada um mês e 17 dias depois fundação da empresa, havia uma cláusula que assegurava o pagamento de prejuízos causados "por inimigos do Rei e pelos piratas". A carga de 5,7 mil toneladas de minério de ferro destinava-se à Inglaterra. O mundo estava em plena a Segunda Guerra Mundial e os "inimigos do Rei e piratas" poderiam ser os nazistas, que vinham torpeando navios brasileiros na costa do país desde fevereiro daquele ano.
Essas e outras curiosidades da história da Vale fazem parte de um grande trabalho de organização do acervo da empresa e, agora, estão disponíveis a poucos toques de um mouse, na página do Espaço Memória (
vale.com/espacomemoria). Meticulosamente construído por uma equipe de historiadores e jornalistas, o Espaço Memória organiza, conserva e dissemina a história da Vale em um ambiente virtual, aberto ao público.
O projeto nasceu em 2011, a partir da produção do livro e do filme "Nossa História", que celebraram os 70 anos da Vale. Desde então, relatos, documentos e relíquias foram sendo recolhidas e montadas como um verdadeiro quebra-cabeça da história da empresa.
Em um ambiente moderno e interativo, a página foi concebida como um livro de memórias. É possível navegar pelas muitas histórias dos quase 80 anos da Vale, fartamente ilustradas. É possível utilizar filtros para selecionar por categorias - pioneirismo, sustentabilidade, tecnologia e inovação, curiosidades e pessoas. Abaixo, alguns outros "causos" da empresa, que se confundem com a história da mineração no Brasil:
O álbum de Getúlio - Datado de 1944, o álbum "Getúlio Vargas" foi supostamente oferecido ao então presidente da República dos Estados Unidos do Brasil. O presente era uma forma de homenagem, já que, naquele período, Itabira se chamava Presidente Vargas - aliás, essa é uma das curiosidades que ronda o álbum. O trabalho de restauração preservou as características originais do material histórico - constituído originalmente por 32 fotos do início das operações da Vale em Minas Gerais, além de 3 mapas que retratam instalações da Mina do Cauê e da Estrada de Ferro Vitória a Minas, por exemplo.
Uniforme inspirado em ator - Não foram encontradas fotos do primeiro uniforme da Vale. Mas o livro Histórias da Vale conta que o engenheiro de Minas e Metalurgia João Márcio Queiroga viu um filme em que o ator Kirk Douglas usava um uniforme de engenheiro e pediu que sua esposa o reproduzisse, por conta da praticidade de ter bolso para guardar réguas. O superintendente da Vale gostou e pediu que fizessem uniformes iguais para todos os empregados.
Carajás por acaso - A equipe era formada pelos geólogos e pioneiros Breno dos Santos, Erasto de Almeida e João Ritter. A ideia era procurar manganês, mas o que foi encontrado na Serra de Carajás mudou a história da Vale: a região era coberta por uma gigantesca reserva de minério de ferro, impossível de ignorar. "Já sabíamos que tinha ferro ali, mas estávamos procurando manganês e nessa transação aparece Carajás. Não existe nada igual no mundo em termos de reservas e de qualidade de minério de ferro, afirmou Newton Rezende, ex-presidente da Valesul, em entrevista para o livro "Histórias da Vale".
A primeira venda para a China - O depoimento do advogado Rony Lyrio, diretor da Itabira International Company na época, apresenta um fato curioso sobre o primeiro embarque de minério para a China, em 1973: Lyrio tentava falar com John Rothschild, negociador americano que intermediou a venda para a China, mas ele não atendia o telefone. Até que às 18h01 daquele sábado, Rothschild ligou para dizer que a operação havia dado certo. A demora explicava-se pelo Shabat, o dia sagrado dos judeus: entre 18h de sexta-feira e 18h de sábado, Rothschild se recolhia para se dedicar às orações como manda a tradição judaica. "Podemos dizer que a primeira entrada da Vale na China foi feita de Nova York, via um trader que não atendia aos sábados", resumiu Lyrio.
O autógrafo de Drummond - Na edição de nº 85 do Jornal da Vale é publicada uma reportagem sobre o aniversário de Itabira, em Minas Gerais. A capa trazia um dos mais famosos poemas de Carlos Drummond de Andrade, "Sentimento do mundo" e a matéria resgatava a Itabira de antigamente. Em forma de agradecimento, o poeta enviou uma mensagem à Vale. Mais do que o elogio, o veículo ganhava um autógrafo de Drummond, cujo a carta foi publicada na edição seguinte.
Uma visita da realeza britânica - Em 23 de abril de 1991, o príncipe e a princesa de Gales, Charles e Diana, pousam em Carajás, no Pará. Eles são recepcionados por estudantes e moradores ao visitarem o núcleo residencial do complexo. O objetivo da visita foi mostrar de perto a operação de minério de ferro de Carajás. Além disso, o casal da realeza plantou uma muda de castanheira no Parque Zoobotânico Vale. Em dezembro de 2019, foi observada a primeira frutificação da árvore de Castanha-do-Pará (Bertholletia excelsa Bonpl.), plantada por eles durante a visita.
Nasce Tubarão - Na véspera da inauguração do Porto de Tubarão, em 1966, o virador de vagões enguiçou. Com o palanque montado, em pouco menos de 24 horas, o presidente da República acionaria o equipamento para a primeira operação oficial do porto em Vitória. Felizmente, a engrenagem foi consertada e, na hora exata, no dia 1° de abril de 1966, os vagões giraram 180 graus fazendo o minério rolar pela correia até o interior do navio. A banda tocou o Hino Nacional e o porto estava oficialmente inaugurado.