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Publicado: 09/09/2016 17:18h

Fibria usa algoritmo na floresta para evitar perdas com clima

Fibria usa algoritmo na floresta para evitar perdas com clima
Como qualquer mortal, os técnicos da Fibria não podem controlar as condições climáticas. Para a maior fabricante mundial de celulose de eucalipto, seria bom se pudessem. Mudanças ambientais inesperadas podem prejudicar drasticamente sua principal matéria-prima. E como as árvores demoram em média sete anos para chegar ao ponto de corte, descobrir que não vai haver madeira suficiente no meio do caminho é certeza de custo maior. A saída, nesses casos, é comprar madeira de outros - e pagar mais por isso.

Para afastar essa ameaça, um ambicioso programa tecnológico está em curso na companhia. No principal desses projetos, a Fibria desenvolveu um sistema capaz de determinar a chance de um fenômeno meteorológico acontecer nas áreas onde ficam suas reservas de eucalipto. "Contratamos matemáticos para fazer o algoritmo mais perfeito possível", diz Wilson Lopes, gerente-geral de tecnologia da empresa. Para se ter uma ideia da complexidade, a fórmula resultante ocupa 38 páginas de word, em formato arial 10.

Uma dobradinha tradicional no mundo da tecnologia - o Big Data e os softwares analíticos - estão na base do projeto. O primeiro termo se refere ao enorme volume de dados acumulado por empresas e governos. O segundo diz respeito aos programas que ajudam a analisar essas informações e tomar decisões de negócio. A combinação é muito usada para prever o comportamento do consumidor e antecipar tendências de compra, mas uma novidade em se tratando de florestas.

A Fibria utiliza clones de eucalipto para produzir celulose. A companhia tem registrados 66 tipos diferentes de árvore, cuja estrutura genética foi adaptada às condições de plantio. Na prática, isso significa que uma floresta inteira pode ter árvores absolutamente idênticas. Quando uma parte dela não se desenvolve como as demais, é sinal de que algo interferiu no crescimento. Os fatores podem variar da incidência da chuva à quantidade de minério existente no solo.

A Fibria já usava softwares de análise, mas os sistemas eram de 1986. A atualização tecnológica corrigiu distorções na base de dados e permitiu incorporar recursos da era do Big Data. O conjunto principal de softwares veio da alemã SAP e o projeto contou com a consultoria da Ernst & Young (EY). Dos 40 anos de dados acumulados sobre o plantio das árvores, a companhia decidiu usar 14, o equivalente a dois ciclos inteiros. Também foram selecionadas cerca de 140 variáveis climáticas. Ao todo, foram incluídos mais de 1,6 bilhão de registros, que estavam dispersos em várias fontes, incluindo planilhas Excel. Com o trabalho concluído, diz Lopes, a Fibria tem, agora, a possibilidade de determinar em 85% a chance de um fenômeno climático ocorrer em uma região de floresta.

Sutilezas fazem a diferença. Pouca gente sabe, mas o eucalipto precisa "descansar" à noite. Quando a luz da lua fica muito forte, ele continua "acordado", com reflexos negativos em seu crescimento. Não dá, claro, para "apagar" a lua, como se ela fosse um abajur. Mas, ao antecipar a incidência do fenômeno, a empresa pode encontrar saídas palpáveis, como criar um clone mais resistente à luminosidade.

Este mesmo conceito - o de antecipar problemas - está na raiz de outro projeto da Fibria, desta vez na área industrial. Eis o dilema: quanto mais lignina tem uma árvore, mais saudável ela é. É essa substância que dá firmeza à planta. Mas para extrair a pasta celulósica, da qual é feita a celulose, a lignina precisa ser eliminada. E como não se sabe de antemão a densidade da madeira - ou seja, sua quantidade de lignina - o equipamento que faz o trabalho, o digestor, tem de ser ajustado em meio ao processo, várias vezes dependendo do caso, para dosar a quantidade de produtos químicos necessários.

A Fibria criou outro algoritmo, com 130 variáveis, para simplificar o trabalho. Antes, o operador tinha de anotar, em Excel, todas as configurações feitas no digestor, para cada tipo de madeira. Agora, com o novo software, o técnico já sabe qual a configuração mais adequada para o tipo de madeira que tem no pátio. "Não é mais um método de tentativa e erro", afirma Lopes.

O processo já foi estabelecido na fábrica Aracruz, em Barra do Riacho (ES). O plano original previa implantar o sistema, neste ano, em outras duas unidades, em Jacareí (SP) e Três Lagoas (MS). A decisão do comando do grupo recaiu, no entanto, sobre outro projeto, o segundo na área florestal: decidir o que fazer depois que uma árvore é cortada - remover o tronco e plantar um clone novo ou fazer uma rebrota.

Hoje, isso só fica claro depois de cinco anos, quando a decisão já foi tomada e é tarde demais para voltar atrás. O novo projeto vai ajudar a escolher o que fazer, com base em dados históricos. A primeira fase, em Aracruz, será entregue em dezembro. Três Lagoas e Jacareí vão ficar para julho de 2017.

Os projetos são resultado de uma política estabelecida a partir de 2012 na Fibria, quando tiveram início fóruns que reúnem a equipe de tecnologia e as gerências de negócio. "Nesses encontros, tentamos entender as necessidades de cada área. Não ficamos nos bits e bytes", diz Lopes.

A princípio, foram definidos seis grandes pilares tecnológicos, como a internet das coisas e a computação em nuvem. Nos fóruns, o que despertou mais interesse - e mostrou maior potencial - foi o Big Data e os softwares analíticos. Os temas foram discutidos com as divisões de negócio de cada área. Só no primeiro ano foram feitos mais de 80 encontros.

Agora, com as diretrizes traçadas, a expectativa é fazer 20 fóruns neste ano - dois para cada uma das 10 áreas de atividade definidas: florestal, industrial, cadeia de suprimentos, etc. Para cada encontro são convidadas cerca de 130 pessoas, com adesão média de 90%, segundo o executivo.

Na prática, diz Lopes, a dinâmica de trabalho fomentou um programa de projetos. Foram identificadas 26 oportunidades, que podem se transformar em ações no futuro. Um comitê foi criado para determinar as prioridades. No projeto do digestor, por exemplo, a equipe de tecnologia avançou até a entrega de um simulador que configura o equipamento de acordo com a madeira disponível. No futuro, a expectativa é chegar a um otimizador, que vai determinar que tipo de árvore deve chegar aos armazéns, numa inversão do ciclo tradicional de fornecimento da matéria-prima. Mas isso ainda não tem data para acontecer. A orientação é evitar descompassos e garantir que um processo esteja maduro o suficiente antes de a inovação seguir adiante. "Não pode ser por modismo", afirma Lopes. "Tecnologia precisa ter retorno."

Fonte: Valor Econômico
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