Agera será responsável por escalar a comercialização da areia proveniente dos rejeitos de minério de ferro, além de investir em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos
A Vale apresentou, nesta terça-feira, dia 17/10, a Agera - empresa criada para desenvolver e ampliar seu negócio de Areia Sustentável. Com sede em Nova Lima (MG), a Agera recebe a areia produzida a partir do tratamento dos rejeitos gerados pelas operações de minério de ferro da Vale no estado e promove sua comercialização e distribuição. A nova empresa também investe em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novas soluções para o produto.
A Areia Sustentável começou a ser produzida pela Vale em 2021 após sete anos de pesquisa, como substituta da areia extraída do meio ambiente. Desde então, já foram destinados ao setor de construção civil e a projetos de pavimentação rodoviária cerca de 900 mil toneladas do produto. A expectativa é comercializar 1 milhão de toneladas este ano e 2,1 milhões em 2024.
“Criamos a Agera com o objetivo de escalar um negócio que está nos ajudando a reduzir o uso de barragens e pilhas em Minas Gerais, além de contribuir para substituir a areia natural, que muitas vezes é extraída de forma predatória do leito dos rios. A criação da Agera está fortemente ligada à
nossa estratégia de promover a mineração circular, o que significa fortalecer na mineração os conceitos da economia circular, de associar o desenvolvimento econômico a um melhor aproveitamento dos recursos naturais”, explica Fabiano Carvalho Filho, diretor de Negócios da Vale.
Estabelecida há cerca de um ano com o nome provisório de Co-Log, a Agera projeta para 2023 uma receita anual em vendas de 18 milhões de reais. Hoje, ela conta com sete pontos de atendimento ao cliente e estoque de material em Minas Gerais e no Espírito Santo. Para a logística do material, a empresa mantém contrato com sete transportadoras rodoviárias e três fornecedores de frete ferroviário. A empresa atende atualmente mais de 80 unidades fabris de sete segmentos (concreteiras, pré-moldados, argamassa, artefatos, cimenteiras, tintas texturizadas e pavimentos) e está investindo em pesquisa para expandir sua atuação em outras aplicações, como cerâmica vermelha.
“Estamos estruturados para acelerar o desenvolvimento de produtos e materiais sustentáveis, atendendo às especificidades que o mercado exige. Além disso, nossas soluções logísticas permitem uma eficiência de ponta a ponta para garantir a agilidade no fornecimento da areia sustentável”, explica Fábio Cerqueira, CEO da Agera.
Como é feita a Areia Sustentável?
O processamento a úmido do minério de ferro, que é utilizado atualmente em menos de 30% da produção da Vale, gera rejeitos, que podem ser dispostos em barragens ou em pilhas. Esses rejeitos são compostos basicamente de sílica, o principal componente da areia, e óxidos de ferro. É um material não tóxico, que em seu processamento é submetido apenas a processos físicos.
A Vale investe desde 2014 em pesquisas para encontrar soluções para o reaproveitamento da areia proveniente do processamento do minério de ferro com o objetivo de reduzir a geração de rejeitos. Em 2021 a Vale iniciou a comercialização da Areia Sustentável, produto destinado para a construção civil com origem 100% legal, alto teor de sílica e baixo teor de ferro, além de alta uniformidade química e granulométrica.
Desde 2021 a areia é produzida na mina de Brucutu, em São Gonçalo do Rio Abaixo. No ano passado, a empresa começou a produzir em pequena escala na mina de Viga, em Congonhas, e nos próximos meses pretende iniciar a produção na mina de Cauê, em Itabira.
Benefícios da Areia Sustentável
No Brasil, cerca de 330 milhões de toneladas de areia são utilizadas anualmente nos segmentos de construção civil e processos industriais. A extração de areia natural, proveniente dos leitos de rios, frequentemente ultrapassa a taxa de reposição natural, podendo causar impactos ambientais irreversíveis. Com a produção da Areia Sustentável, é possível realizar uma extração 100% circular, transformando um material, que seria descartado, em vários produtos em benefício da sociedade, sem comprometer a biodiversidade.
Além disso, a Areia Sustentável gera maior rentabilidade ao mercado de construção civil e indústrias, já que o processo garante maior controle e qualidade do produto final, evitando o desperdício do material e refações durante a obra. Ainda na produção de concreto, a Areia Sustentável ajuda a reduzir o consumo de cimento e emissões de CO2.
Em 2022, a Universidade de Queensland e a Universidade de Genebra divulgaram um estudo que confirma que a areia proveniente do processo de produção do minério de ferro pode contribuir para solucionar duas importantes questões ambientais ao atenuar a extração predatória de areia e reduzir a geração de rejeitos de mineração. O estudo teve participação da Vale, que cedeu amostras da sua Areia Sustentável para que as universidades fizessem uma análise independente do material e doou US$ 1 milhão para apoiar o trabalho dos pesquisadores.
Outras aplicações estudadas pela Vale
A Vale iniciou no ano passado a última fase dos testes de uma solução que promete reduzir os custos de construção e aumentar a vida útil de rodovias. A empresa inaugurou a primeira estrada do Brasil que utiliza a Areia Sustentável nas quatro camadas do pavimento. Testes em laboratório apontaram que o aumento da vida útil é da ordem de 50% e a redução de custos de 20% quando comparado com materiais mais usados em estradas. Além disso, cada quilômetro de pavimento pode consumir até 7 mil toneladas de rejeito. Os testes são realizados em uma estrada de 425m em Itabira (MG). A pista será monitorada até o ano que vem, com 96 sensores. O estudo tem parceria da Universidade Federal de Itajubá (campus Itabira) e da Coppe-UFRJ.
Ainda em Minas Gerais, a Vale mantém a Fábrica de Blocos do Pico, primeira planta industrial de produtos para a construção civil cuja matéria-prima principal é o rejeito da mineração. Instalada em 2020 na Mina do Pico, em Itabirito, a fábrica tem capacidade de produção de 3,8 milhões de produtos pré-moldados. Nos dois primeiros anos, ela funcionou em regime de P&D e contou com a cooperação técnica do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) para o desenvolvimento de produtos pré-moldados de larga aplicação na indústria da construção civil, como pisos intertravados, blocos de alvenaria e vedação.