A Petrobras encerrou, na última sexta-feira (23/3), sua participação no 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, onde lançou o relatório Água na Petrobras. O documento apresenta informações sobre o uso da água na Petrobras, ferramentas de gestão interna, ações de racionalização, iniciativas de engajamento, investimentos em pesquisa e desenvolvimento e projetos do Programa Petrobras Socioambiental.
Em entrevista concedida à Agência Petrobras, o gerente de biodiversidade e recursos hídricos da Petrobras, Carlos Gonzalez, detalhou algumas das medidas adotadas pela companhia para reduzir seu uso de água. Gonzalez contou como a Petrobras triplicou o reuso de água em suas unidades, passando de 8 milhões de m³ em 2007 para 25,4 milhões de m³ em 2017. A maior parte da água foi reutilizada nas refinarias.
Por que é importante para a Petrobras divulgar um relatório de gestão de água?
Porque no âmbito da gestão de recursos hídricos e efluentes da companhia, nós estamos sistematicamente adotando boas práticas, desenvolvendo ferramentas e procedimentos pioneiros. Então, é uma oportunidade da companhia dar publicidade ao que vem fazendo porque isso também é um insumo para outras empresas. Como temos visto no Fórum da Água, a solução do problema da água passa, entre outras coisas, pelo processo colaborativo de construção. Através dessa publicação, nós conseguimos compartilhar muitas ações positivas que estamos conduzindo, com resultados práticos muito interessantes.
Que resultados práticos você poderia destacar?
Quando falamos de gestão de recursos hídricos, sempre ressaltamos que a nossa gestão é focada na racionalização do uso da água. Nessa linha, o reúso de água é uma ferramenta muito importante. Se observarmos os dados de reúso na companhia de 2007 a 2017, nós triplicamos o volume de água reusada. Esse aumento ocorreu não somente em termos absolutos, mas na importância relativa do reúso, que hoje responde por 12,5% da nossa demanda de água. Com isso, são 25,4 milhões de metros cúbicos de água por ano que deixamos de captar do meio ambiente. Essa racionalização também se estende a áreas administrativas. Em 2012, desenvolvemos um guia de racionalização do uso da água específico para essas áreas em cooperação com a Universidade de São Paulo, que possui um centro internacional de referência em reúso de água - o CIRRA. Nós desenvolvemos esse guia prático e a sua implementação levou a uma redução de 33% do uso de água dos nossos principais prédios administrativos em dois anos.
Quais medidas mais contribuíram para triplicar o volume do água reusada?
Esse número de reúso é majoritariamente gerado pela Área Industrial da companhia. Cerca de 70% da nossa captação de água é destinada para atender a atividade de refino. E, pela natureza das nossas operações, as refinarias estão localizadas ou em centros urbanos ou no seu entorno, onde se concentram os maiores desafios relacionado ao acesso a água em quantidade e qualidade para atendimento aos diferentes usos requeridos. Então, para as refinarias, particularmente, é fundamental desenvolver estratégias para aumentar a eficiência do uso da água. O crescimento desse número se deve muito ao incremento do reúso dentro da atividade de refino, com a entrada de novas plantas para essa finalidade.
Você pode falar um pouco também sobre o Índice de Risco de Escassez Hídrica que você apresentou durante o Fórum da Água?
O Índice de Risco de Escassez Hídrica foi resultado de um trabalho desenvolvido em parceria com o Laboratório de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Por que isso? A Petrobras tem 455 instalações usuárias de água. Desde grandes usuárias como as refinarias até pequenos usuários como bases de distribuição e terminais, mas que tem uma importância logística muito grande dentro da nossa cadeia. Então havia uma necessidade de dispor de uma ferramenta prática que nos permitisse avaliar qual nossa exposição ao risco de escassez hídrica. A gente testou algumas ferramentas púbicas disponíveis sobre isso. Existem várias hoje nessa área e nenhuma dela foi capaz de dar uma resposta precisa sobre risco hídrico para a Petrobras. Em um universo de 455 instalações, temos que ter algum critério que nos diga onde investir e com que prioridade investir. Então procuramos o laboratório de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da UFRJ, que já é um parceiro nosso de longa data. Já tínhamos desenvolvido outros trabalhos com eles e partimos para o desenvolvimento desse índice, que é uma ferramenta pioneira.
Como o índice auxilia a gestão?
Ele tem como premissa não ter que desenvolver novos estudos para levantar informações para aplicá-lo. Você obtém os resultados com base em informações disponíveis na unidade ou no sistema de gestão de recursos hídricos nacional. Ele é composto de três subíndices. O índice de disponibilidade, que avalia a disponibilidade hídrica naquela região. O índice de vulnerabilidade que avalia a gestão daquela bacia no sentido de verificar se o processo de gestão existente ali está contribuindo para uma melhoria ou pra uma piora no quadro de disponibilidade. E um índice de resiliência, que avalia como a unidade está preparada para responder a uma eventual situação de escassez hídrica. Esses três subíndices produzem um resultado final em percentual de 0 a 100. Quanto maior o percentual, maior o risco. A sua metodologia de desenvolvimento também permite a comparação direta entre unidades. Conseguimos comparar unidades de diferentes tipologias de negócio e avaliar onde é necessário investimento para mitigação dos riscos.
Que tipo de ação pode ser adotada a partir desses resultados?
Aplicamos esse índice e os resultados finais geraram um plano de ação corporativo para mitigação de risco hídrico. Esse plano de ação envolve todas as áreas da companhia e é composto por 40 ações. Ele é acompanhado dentro do programa Compromisso com a Vida. São 40 ações de 7 tipos. Ações que vão desde interação com gestores públicos no sentido de melhorar a qualidade de informação que a gente usa para aplicar o índice, participação em comitês dentro das bacias que a gente opera, implantação de novos projetos dentro das unidades e projetos de pesquisa e desenvolvimento. Estruturamos, por exemplo, um projeto de pesquisa dentro do nosso Centro de Pesquisas, o Cenpes, justamente para atender aos desdobramentos desse plano de ação corporativa. A cada dois anos a gente reaplica o índice, refaz o mapeamento de criticidade hídrica e retroalimenta este plano.
Dentro do tema água, tem alguma tecnologia desenvolvida internamente pelo Cenpes que a gente possa destacar?
Temos a unidade móvel de reúso de água, por exemplo, desenvolvida pelo Cenpes. Ter dentro da companhia uma unidade móvel com 15 tecnologias em escala piloto, capazes de simular até 90 rotas de tratamento é algo fantástico. Nos permite gerar in loco os parâmetros de projeto para um sistema de tratamento.
A unidade móvel testa o reúso de água na unidade antes da instalação da planta de tratamento?
A unidade vai propor o melhor arranjo tecnológico, e, depois que o encontramos, a deixamos operando no local por um tempo, sempre sob supervisão de técnicos do Cenpes, para gerar os parâmetros de projeto necessários ao dimensionamento da unidade a ser implantada. Acho que o potencial e o diferencial da unidade também é esse. Você pode deixá-la rodando in loco por determinado período, uma vez que, dentro de uma unidade industrial, o efluente pode sofrer variações ao longo do tempo. Em função da época, mais quente ou, mais fria, há alterações de vazão e de qualidade. Isso impacta no dimensionamento do projeto.
O que representa para a Petrobras, lançar sua primeira publicação em água justamente no Fórum Mundial da Água, maior evento mundial sobre o tema?
Representa uma conquista. Apurar e consolidar informações e em uma companhia do tamanho da nossa é um processo complexo e que demandou uma longa jornada de implementação. Desenvolvemos um sistema informatizado próprio, o DATA HIDRO, iniciamos a sua implementação em 2007 e hoje temos um processo amadurecido e robustos de consolidação de informações. Estamos felizes de poder mostrar nossos resultados no 8º Fórum Mundial da Água e convido todos a acessar a publicação no nosso site e conhecer mais sobre nossas práticas e resultados em relação ao uso da água nas nossas instalações.
Clique aqui para conhecer o relatório Água na Petrobras.