Durante evento da ABDE, o banco capixaba destaca como iniciativa pode acelerar a redução da pegada de carbono no Estado e o papel dos bancos de desenvolvimento neste processo
Embora o Brasil tenha avançado na redução das emissões de gases poluentes, a transição para um padrão de consumo energético mais sustentável ainda demanda ampla discussão e ação coordenada entre governos e instituições financeiras. No cenário nacional, o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes), supervisor do Fundo de Descarbonização do Estado, tem se consolidado como referência na promoção de investimentos verdes e no apoio à economia de baixo carbono.
Na sexta-feira (14), o diretor-presidente do Bandes, Marcelo Saintive, foi palestrante no painel “Transição Energética: o papel das Instituições Financeiras de Desenvolvimento (IFDs) no financiamento de uma transição energética justa”, promovido pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), durante a COP-30, em Belém, no Pará.
No espaço do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a abertura da discussão foi feita pelo economista-chefe e gerente de Sustentabilidade, Economia e Inovação da ABDE, Eduardo Djanikian. Além de Saintive, a ocasião também contou com a presença do assessor da Diretoria de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, Fábio Kono; do especialista em Financiamento Climático do Instituto E+, João Abbud; do CEO da Fama Re.Capital, Sérgio Gusmão; e do professor de Economia na Universidade de Brasília, Jorge Arbache.
Reunindo representantes de bancos e agências de desenvolvimento, do setor privado, da sociedade civil e outras organizações, o encontro buscou promover o diálogo sobre como ampliar o financiamento sustentável para a transição energética, de forma inclusiva e alinhada às metas climáticas globais. O debate abordou, entre outros pontos, o papel do Sistema Nacional de Fomento (SNF) na mobilização de capital, formação de parcerias e criação de soluções financeiras que reduzam riscos e ampliem benefícios socioeconômicos.
Além disso, os desafios do financiamento à inovação e ao empreendedorismo voltado à transição justa e efetiva da economia e as novas oportunidades de investimento também estiveram entre os temas pautados.
Em sua apresentação, utilizando o Fundo de Descarbonização como exemplo, o diretor-presidente explicou como bancos de desenvolvimento podem elaborar estruturas de financiamento que contribuam para a redução da pegada de carbono de projetos industriais e outros diferentes setores da economia.
Segundo apontam os dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG), entre 2023 e 2024, as emissões brutas de gases de efeito estufa do Brasil caíram 16,7%, considerada a segunda maior queda nos índices de poluição climática já registrada no país desde o início das medições, em 1990, e a maior desde 2009, quando o recuo foi de 17,2%.
Seguindo esta tendência, o Bandes concluiu, no ano passado, o projeto Diagnóstico Climático, que mobilizou mais de 300 empresas e resultou na elaboração de 25 inventários de Gases de Efeito Estufa (GEE), contabilizando mais de 1,2 milhão de toneladas de carbono. Além disso, em parceria com o Observatório Findes, o banco também mapeou o comportamento das indústrias capixabas: 80% demonstram interesse em adotar medidas de descarbonização, 90% já têm maturidade em eficiência energética e gestão de resíduos, e 56% possuem investimentos previstos nessa área.
“O Estado reúne todas as condições para se tornar referência nacional em inovação e tecnologias limpas — com destaque para o hidrogênio de baixa emissão, a energia solar e eólica, o biogás e as soluções de captura e armazenamento de carbono. Mas transformar esse potencial em resultados concretos exige mais do que estudos técnicos: demanda financiamento estruturado, articulação institucional e visão de longo prazo. É nesse ponto que o Bandes atua”, pontua o diretor-presidente.
Para o banco capixaba, como um dos poucos bancos de desenvolvimento do país, o mundo vive um novo ciclo econômico, em que a competitividade está diretamente ligada à sustentabilidade e o seu objetivo é mostrar que o desenvolvimento só será efetivo se for também ambientalmente responsável, utilizando, para isso, dados, planejamento e visão em longo prazo.
“O Espírito Santo dá um passo firme rumo a um novo modelo de desenvolvimento, que une competitividade, inovação e responsabilidade ambiental. O Fundo de Descarbonização traduz essa visão: utilizar recursos do petróleo e do gás para financiar uma economia de baixo carbono, gerando investimentos sustentáveis e de impacto real. Estamos conectando o presente às demandas do futuro e mostrando que é possível crescer com equilíbrio, propósito e compromisso com as próximas gerações. Esse movimento coloca o Estado na vanguarda nacional e o Bandes como referência na integração entre finanças, inovação e responsabilidade climática”, afirma Saintive.
O Fundo de Descarbonização
A iniciativa está alinhada ao Plano de Descarbonização e Neutralização das Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) do Espírito Santo, lançado em 2023, que prevê reduzir em 27% as emissões até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono em 2050. O Fundo conta com aporte inicial de R$ 500 milhões do Fundo Soberano do Espírito Santo (Funses) – criado em 2019 para assegurar a gestão responsável das receitas do petróleo e gás natural – e seguirá as diretrizes da CVM e da ANBIMA.
“Estamos construindo, junto ao Governo do Estado, mecanismos financeiros capazes de atrair recursos de organismos internacionais e investidores comprometidos com as finanças climáticas — como o Fundo de Descarbonização, que vai fortalecer cadeias produtivas verdes e apoiar o compromisso do Espírito Santo de alcançar a neutralidade de carbono até 2050”, complementa.
Além do impacto econômico, o Fundo de Descarbonização tem relevância direta para a sociedade capixaba, ao fomentar práticas empresariais mais conscientes e contribuir para a melhoria da qualidade de vida. A iniciativa fortalece o compromisso do Espírito Santo com as metas globais de sustentabilidade e com os princípios de economia de baixo carbono, estimulando a geração de empregos verdes e o uso eficiente dos recursos naturais. Dessa forma, o Bandes se consolida como um agente de transformação, conectando o desenvolvimento regional à agenda climática mundial.
Atualmente, o Bandes conduz a fase de estruturação do Fundo de Descarbonização em parceria com o BTG Pactual, instituição vencedora da chamada pública para a gestão dos recursos. O trabalho conjunto visa definir a governança, as estratégias de investimento e o portfólio de produtos financeiros que serão futuramente disponibilizados ao mercado. Essa etapa é fundamental para garantir a eficiência, a transparência e o alinhamento do fundo às melhores práticas internacionais de finanças sustentáveis, assegurando que os recursos mobilizados tenham impacto real na transição para uma economia de baixo carbono no Espírito Santo.
Saiba mais:
www.bandes.com.br/descarbonizacao