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Publicado: 15/09/2017 00:00h

Economia chinesa esfria e derruba commodities

Economia chinesa esfria e derruba commodities
A esperada desaceleração da economia chinesa chegou e acertou em cheio os preços das commodities. Os chineses revelaram um crescimento menor que o esperado tanto na produção industrial quanto no investimento em infraestrutura - dois índices que estavam sustentando uma alta do minério de ferro e alguns metais não ferrosos já considerada exagerada pelos analistas - e acendeu o sinal amarelo para a demanda por essas matérias-primas. No mês passado, a produção industrial da China subiu 6% na comparação anual, a menor velocidade desde dezembro. O aumento da formação bruta de capital fixo, de 7,8%, foi o pior resultado desde 1999.

Ontem, o minério de ferro fechou em queda de 3,4% no porto de Qingdao, na China, cotado a US$ 73,99 por tonelada, segundo a "Metal Bulletin". É o recuo percentual mais agudo em três meses, que levou o insumo ao menor patamar em um mês.

Na Bolsa de Metais de Londres (LME, na sigla em inglês), o dia também começou bastante negativo, chegando a mínimas em mais de um mês, mas houve alguma recuperação até o fechamento. Os contratos futuros de três meses do alumínio caíram 0,6%, para US$ 2.098, enquanto o cobre teve queda de 0,7%, para US$ 6.498, e o níquel, desvalorização de 1,4%, para US$ 11.200.

O resultado para as maiores mineradoras do mundo foi negativo. Na bolsa de Londres, as ações da Rio Tinto caíram 2,94%, terminando em 35,61 libras (US$ 47,70), enquanto a BHP Billiton recuou 3,32%, para 13,63 libras. No caso da Glencore, a queda foi de 2,93%, para 3,53 libras.

Na B3, a Vale, principal produtora de minério de ferro e níquel do mundo, também sofreu com a reação dos investidores. As ações ordinárias recuaram 3,31%, para R$ 33,62, enquanto as preferenciais classe A caíram 2,58%, para R$ 30,98. O Ibovespa caiu 0,18% no dia.

Mas o momento da Vale continua positivo. Também ontem, o Credit Suisse divulgou relatório elevando o preço-alvo sobre os ADRs - recibos de ações - da Vale, de US$ 8 para US$ 9,50, mas mantendo a recomendação neutra para o papel. O ADR ON fechou a US$ 10,74, queda de 2,72%.

"Esperamos que a Vale respeite o ciclo das commodities e mantenha um alto nível de disciplina na alocação de capital, evitando qualquer expansão ou aquisição antes que o nível certo de alavancagem seja alcançado e que os ajustes internos sejam entregues", afirmaram os analistas Ivano Westin, Renan Criscio e Rafael Cunha, responsáveis pelo texto.

A expectativa do banco suíço é que a mineradora registre dívida líquida de US$ 10 bilhões, abaixo da meta anterior de US$ 15 bilhões. Entre as medidas internas, o banco sugere que a Vale se aprofunde na melhora dos preços de venda do minério e na produção de melhor qualidade, encerrando operações menos rentáveis. O Credit ainda projeta produção de 360 milhões de toneladas de minério de ferro para 2017, 385 milhões de toneladas em 2018 e 400 milhões de toneladas a partir de 2019.

O consenso do mercado já era de que uma hora o desempenho das commodities iria arrefecer. Levantamento do Valor com 18 instituições financeiras, entre bancos, corretoras e agências de rating, mostrava previsão média de US$ 57 para o minério, por exemplo, até o fim deste ano.

Para o banco alemão Commerzbank, houve uma reversão de sentimento dos investidores e compradores físicos por conta dos dados piores da economia chinesa. No mês passado, a produção industrial subiu 6% em comparação anual, a menor velocidade desde dezembro. Além disso, a formação bruta de capital fixo avançou 7,8% nos oito primeiros meses do ano, o pior resultado desde 1999.

"A economia chinesa provavelmente vai crescer mais lentamente no terceiro trimestre do que no período imediatamente anterior", diz o analista Daniel Briesemann, em relatório. "A confiança que estava presente no mercado não se reflete mais nos dados macroeconômicos."

O ICBC Standard Bank concorda e, também em relatório, previu que a correção nos preços das commodities possa se intensificar daqui para frente. "A postura fiscal do governo chinês de adotar medidas contracíclicas para elevar o investimento, em uma economia com crescimento mais sólido como agora, naturalmente é reduzida", lembra o analista Marcus Garvey.

Indústria e infraestrutura são os principais indicadores de demanda por matérias-primas. O desempenho de ambos os setores mostra como está o consumo do minério de ferro e do cobre, mas também de alumínio por conta de estruturas necessárias no pós-construção, por exemplo.

Mas a corretora australiana ANZ Research acredita que não há motivo para pânico. Apesar de o menor investimento representar um risco para a demanda por commodities, a perspectiva não é de uma queda repentina, disse, em relatório. A instituição lembra que há três meses o governo aprovou adições ao orçamento para novos projetos de infraestrutura, o que demonstra sustentação do setor.

Além disso, a economista Betty Wang, responsável pelo texto da corretora, lembra que os gastos no setor imobiliário estão estáveis. Mesmo assim, ela prevê moderação no avanço da economia durante o segundo semestre, frente ao primeiro.


Fonte: Valor Econômico
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