Nos últimos cinco anos, 27 novas espécies botânicas foram reconhecidas a partir de material coletado na Reserva Natural Vale, no Espírito Santo Três novas espécies botânicas de Mata Atlântica foram oficialmente descritas para a Ciência. Batizadas de Eugenia cataphyllea, Eugenia hispidiflora e Begonia jaguarensis, as plantas receberam os nomes vulgares de Batinga melosa, Araçá cheiroso e Begonia rasteira, respectivamente. As espécies foram encontradas a partir de material coletado na Reserva Natural Vale (RNV), área conservada de Mata Atlântica mantida pela mineradora Vale, em Linhares (ES). Trata-se de um dos últimos remanescentes da Mata Atlântica do país onde foram encontradas 27 novas espécies botânicas, oficialmente reconhecidas pela Ciência, nos últimos cinco anos.
De acordo com Gleuza Jesué, gerente-executiva de Meio Ambiente da Vale, a conservação de áreas ricas em biodiversidade como a Reserva Natural Vale é uma esperança para o futuro deste bioma. Embora o último Atlas dos Remanescentes Florestais tenha trazido um dado positivo, de 24% de queda no desmatamento da Mata Atlântica, o desmatamento no período de 2013 a 2014 ainda foi equivalente a 18 mil campos de futebol. "Com as ações desenvolvidas na Reserva podemos contribuir regionalmente em termos de conservação da Mata Atlântica, a partir do fornecimento de conhecimento para melhorar as metodologias de restauração, além de proteger um dos últimos remanescentes de floresta do Norte do Espírito Santo e Sul da Bahia", explica Gleuza.
Os artigos que descrevem as espécies Eugenia cataphyllea e Eugenia hispidiflora foram publicados na revista Nouvon, do Missouri Botanical Garden. Já o texto que descreve a Begonia jaguarensis foi publicado na revista Candollea, do The Conservatory and Botanical Garden of the City of Geneva (CJBG). As duas publicações estão entre as mais relevantes do ramo científico sobre flora e fauna.
Espécies endêmicas
Da família das goiabeiras, pitangas e araçás, a Eugenia cataphyllea é conhecida apenas para a Floresta de Tabuleiro, uma das formações mais ameaçadas do bioma Mata Atlântica e a que predomina na RNV. Trata-se de um arbusto ou arvoreta que pode chegar a medir de 2 a 3 metros de altura e que floresce entre os meses de setembro e outubro. Já a frutificação da espécie ocorre entre outubro e novembro.
A Eugenia hispidiflora, por sua vez, pode chegar a 3 metros de altura e ocorre nas florestas localizadas na costa do Norte do Espírito Santo e do Sul da Bahia. O período de floração acontece em novembro e a frutificação entre janeiro e fevereiro.
Já a Begonia jaguarensis, cujo nome específico faz uma homenagem ao município de Jaguaré, no Norte do ES, é uma erva terrestre, ou epífita, que mede de 2 a 16 centímetros de altura e apresenta muitas glândulas e trichomas, que é a ocorrência de pelos nas folhas. A espécie também fica distribuída em Florestas de Tabuleiro e na Muçununga, uma das fisionomias da Mata Atlântica e que também é encontrada na RNV.
A constatação das três novas espécies botânicas só foi possível a partir de análise feita tanto em uma exsicata da espécie - ou seja, em uma amostra seca da planta, que compõe o acervo do herbário da Reserva -, quanto em material "fresco" coletado em campo, também na Reserva.
Pesquisas com flora e herbário
A Reserva Natural Vale é considerada um grande banco genético e abrigo de diferentes espécies de fauna e flora da Mata Atlântica. Juntamente com a Reserva Biológica de Sooretama, a Reserva Natural Vale constitui o maior remanescente florestal do estado do Espírito Santo e consiste em um dos mais representativos do bioma Mata Atlântica no país. Desde 1981, quando foi feita a primeira publicação de uma nova espécie para a Reserva, o número de novas plantas oficialmente reconhecidas pela Ciência, a partir de material coletado no local, chega a mais de 90.
Para embasar as pesquisas com flora, a Reserva Natural Vale conta com um Herbário, ou seja, uma coleção científica que contribui para o conhecimento da flora da Mata Atlântica. Como resultado desse trabalho, cerca de 2.800 espécies de plantas já foram registradas para a Reserva. Atualmente, amostras de espécies botânicas coletadas na RNV integram o acervo de diferentes herbários do Brasil e do mundo. É o caso do Virtual Botanic Garden, do New York Botanical Garden, do Missouri Botanical Garden e do Royal Bontanic Gardens, alguns dos maiores herbários do mundo que também disponibilizam o material para consulta pela internet. No Brasil, contam com material coletado na Reserva o Instituto de Botânica de São Paulo, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entre outros.
Esse compartilhamento de informações, que teve início em 2004, proporcionou a descoberta de espécies e gêneros da Mata Atlântica que até então eram desconhecidos pela Ciência. É o caso da Spiranthera atlantica, árvore que foi identificada na Reserva Natural Vale em 2010 e que recebeu o nome popular de "fava-de-quatro". No herbário da Reserva Natural Vale, que é referência mundial e também pode ser consultado tanto in loco quanto virtualmente, existem hoje cerca de 14 mil amostras de plantas.
Sobre a Reserva Natural Vale
A Reserva Natural Vale se insere na área do Sítio do Patrimônio Natural Mundial da Costa do Descobrimento (desde 1999) e detém o título de Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (desde 2008). O título, concedido pela UNESCO, reconhece ações para o desenvolvimento sustentável, a promoção e disseminação do conhecimento científico e a conservação da biodiversidade. Com 23 mil hectares, a área é destinada principalmente a pesquisas científicas, educativas e de restauração ecológica. A partir de pesquisas realizadas na RNV já foram publicados mais de 100 artigos científicos que, por sua vez, foram citados em, aproximadamente, outros 640 artigos.