Às inúmeras notícias acerca do mercado de veículos elétricos que vêm sendo divulgadas nos últimos tempos, soma-se mais uma: neste 01 de julho, com a valorização de suas ações nas bolsas, a Tesla se tornou a montadora com maior valor de mercado, cerca de US$ 210 bilhões, ultrapassando a Toyota e passando a valer mais que o triplo do que valem, somadas, a Ford e General Motors.
A alta de suas ações, mais de 163% neste ano, parece refletir a confiança dos investidores sobre o futuro dos veículos elétricos, área em que sem dúvida a Tesla tem posição de relevância. Deve-se lembrar que os que investem em ações de uma empresa acreditam que ela tem potencial para gerar grandes lucros no futuro e, mais importante, porque esperam poder vender as ações por um preço ainda mais alto. Especuladores são muito ativos nesse mercado e seus movimentos podem fazer oscilar o valor das ações de uma empresa, independentemente de seu desempenho.
Alguns cuidados devem ser tomados antes de se apostar muito na Tesla: após vários anos de prejuízos, a empresa teve três trimestres consecutivos de lucro; não se pode garantir que essa maré positiva perdure, apesar de devermos registrar que a Amazon, depois de abrir o capital em 1997, demorou 24 trimestres até registrar lucro.
Esses cuidados devem ser aumentados quando comparamos Toyota com Tesla: a primeira vendeu 10,46 milhões de veículos durante o período de um ano encerrado em março de 2020. Sua receita líquida foi de US? 281,2 bilhões nesse período. A Tesla encerrou 2019 com receita de US? 24,6 bilhões, tendo vendido 367 mil veículos. É bom lembrar também que há cerca de dez outros fabricantes que produzem mais veículos do que a Tesla: a Suzuki, a décima maior fabricante, vendeu 3 milhões em 2019, quase dez vezes mais do que a Tesla.
A personalidade de Elon Musk, o principal executivo da Tesla, também deve ser levada em conta pelos investidores, trata-se de uma figura exótica, que dispõe de imenso poder na empresa. Isso pode ser bom, ao agilizar os processos decisórios, mas também pode levar à adoção de caminhos perigosos para a Tesla. De qualquer forma, Musk afirma que a empresa entregará mais de 500 mil veículos em 2020, apesar da pandemia.
Deve-se registrar também os resultados da 34ª versão da pesquisa JD Power Initial Quality Study, que estuda a qualidade dos veículos fabricados nos Estados Unidos, e na qual a Tesla teve péssimos resultados, tendo inclusive ido à Justiça tentando proibir a realização da pesquisa, provavelmente por saber o que os consumidores diriam de seus carros. Esse é um mau sinal.
O comportamento do mercado de veículos autônomos também deve influenciar os resultados da Tesla. De qualquer forma, a empresa deve se beneficiar do interesse geral por veículos elétricos, embora investimentos em seus papéis devam ser estudados com muita atenção.
Vivaldo José Breternitz é Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.