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Publicado: 23/03/2018 08:56h

Minério de ferro tem queda de 14,5% em março

Minério de ferro tem queda de 14,5% em março

Uma tempestade perfeita atingiu o minério de ferro. O dólar mais forte, a tensão nos mercados pelas medidas protecionistas dos Estados Unidos, a marca recorde de estoques em portos chineses, a percepção de que novas obras na China não estão andando, o fim de restrições ambientais à siderurgia no gigante asiático e a perspectiva de aumento de produção pelas quatro maiores mineradoras derrubaram os preços da commodity em março.

Até agora no mês foram apenas quatro dias positivos para o insumo no mercado físico chinês, contra onze no vermelho. A cotação recua 14,5% em março, uma variação negativa que não era vista desde setembro, quando o minério caiu 21,4% e interrompeu uma série de altas que quase levaram o valor para acima de US$ 80 por tonelada. Desta vez, algo semelhante ocorreu. O minério bateu US$ 79,39 por tonelada no dia 1º e, desde então, vivencia sucessivas quedas.

Ontem, a commodity com pureza média de 62% terminou o dia cotada em US$ 67,25 a tonelada no porto chinês de Qingdao, segundo a "Metal Bulletin". No ano, as perdas são de 7,4%.

Os motivos para a perda de força podem ser muitos, mas há bastante tempo os analistas alertavam para a insustentabilidade dos preços. Para eles, em um mercado transoceânico claramente com excesso de oferta, o insumo estava muito caro. Faltava um gatilho para que a correção para baixo começasse e ele foi Donald Trump, presidente dos EUA.

"As conversas em geral sobre tarifas de importação americana não pegam nem um pouco bem com os mercados e ainda há muita tensão e incerteza quanto ao que mais pode acontecer", comenta Edward Meir, da consultoria de commodities FCStone. Mesmo considerando apenas a sobretaxa ao aço e ao alumínio, a situação já parece confusa, acrescenta o analista, dada a burocracia para que empresas e países consigam isenção.

Essa preocupação dos investidores fez com que corressem para garantir proteção financeira, com exposição ao dólar - a moeda mais forte do mundo. O US Dollar Index, por exemplo, índice ponderado que mede a divisa frente a outras seis, avançou 2% desde que, em 16 de fevereiro, o Departamento de Comércio recomendou que Trump acionasse a seção 232 para barrar importações de aço e alumínio nos EUA. Frente ao real, subiu 2,2%.

Commodities negociadas em dólar costumam sofrer pressão de baixa quando a moeda americana se valoriza. Um dólar mais forte significa que o produto também ficaria mais caro, motivo pelo qual há uma correção.

Ironicamente, a taxa cambial ajuda a beneficiar a maior produtora do minério no mundo, a Vale. Como a moeda funcional de seu balanço é o real, os ganhos a serem embolsados pela venda da commodity foram menos impactados - a desvalorização em março é 1,2 ponto percentual menos intensa, de 13,3%. Além disso, a cotação média em divisa americana de US$ 75,41, queda de 11,9% em comparação anual, cai menos, 9,1%, na brasileira. Levantamento do Valor com 13 instituições financeiras mostra previsão de cotação média de US$ 63,10 em 2018.

Mas além do aspecto financeiro, o minério também sofreu com seus próprios fundamentos econômicos. Na semana passada, os estoques do insumo em portos chineses atingiu os 160 milhões de toneladas, uma marca histórica. O alemão Commerzbank ressalta que os volumes deixam o mercado transoceânico "mais que em servido", também ajudando a derrubar a cotação nos últimos dias.

Os compradores correram para armazenar o máximo possível da matéria-prima antes de as restrições ambientais que cortaram capacidade siderúrgica na China vencessem, na semana passada. Ávidos pelo minério e, especialmente, um de melhor qualidade - o que beneficiou os produtos com pureza de 62% e 65% -, ajudaram a impulsionar os preços.

Norbert Rücker, analista do Julius Baer, escreveu que o aumento de estoques - tanto de minério quanto de aço - traz sobreoferta para o volume necessário na temporada mais agitada da construção no país. Ela é reforçada pela evolução do Brasil e Austrália na extração do minério. "Seguimos cautelosos", disse.


Fonte: Valor Econômico
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