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Publicado: 10/03/2017 13:48h

Mineradoras estão otimistas com 2017

Mineradoras estão otimistas com 2017
A recuperação dos preços das commodities industriais ajudou as principais mineradoras e negociadoras de matérias-primas a melhorarem seu resultado e sua estrutura de capital durante o ano passado. Agora, as companhias acreditam que haverá arrefecimento no mercado internacional, mas ainda apostam em cotações elevadas para continuarem a embolsar os ganhos depois de dois anos de baixa.

No geral, as mineradoras estão mais otimistas do que analistas quanto aos preços e têm motivos para aguardar isso. O Valor compilou os balanços de Vale, Rio Tinto, BHP Billiton, Fortescue Metals, Anglo American e Glencore, que registraram lucro líquido conjunto de US$ 7,08 bilhões no ano passado, ante perdas de US$ 31,3 bilhões em 2015, causadas em grande parte por baixas contábeis.

O resultado das mineradoras melhorou em 2016 com, além do aumento nas receitas, cortes de custos e de despesas financeiras. A receita líquida cresceu 2,1%, para US$ 276,61 bilhões, enquanto o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado subiu 17%, para US$ 58,91 bilhões. A margem sobre esse indicador foi de 18,6% para 21,3%.

Ao mesmo tempo, as empresas endureceram a disciplina sobre a estrutura de capital e a dívida líquida conjunta caiu 19,2%, para US$ 88,77 bilhões. A alavancagem, medida pela relação entre endividamento líquido e Ebitda - ou em quantos anos as empresas conseguiriam honrar as obrigações só com seu caixa e o que é gerado nas operações -, foi de 2,2 vezes para 1,5 vez. O setor também reduziu drasticamente o ritmo de investimentos, com baixa de 34,9% para US$ 21,3 bilhões. A previsão em 2017 é de US$ 22 bilhões.

Os números estão longe do que já foram nos tempos áureos do superciclo das commodities, puxado pela demanda da China. Mesmo frente a 2014, quando se iniciou a queda mais drástica dos preços, há piora. Em 2014, a receita líquida conjunta havia sido de US$ 391,76 bilhões, com Ebitda de US$ 84,35 bilhões e lucro de US$ 18,32 bilhões. A dívida era bem mais alta, de US$ 112,96 bilhões, mas a alavancagem, menor, em 1,3 vez.

O insumo que obteve melhor desempenho durante o ano passado foi o minério de ferro, com avanço de 81%. Em 2017 até agora, a commodity acumula valorização de 10,5% e terminou negociada a US$ 87,19 por tonelada ontem no porto chinês de Qingdao, segundo a "Metal Bulletin".

A média até agora no ano é de US$ 85, mas a maior parte do mercado vê viés de baixa. As projeções apontam para US$ 62 para o produto com pureza de 62% e as instituições financeiras veem patamar entre US$ 55 e US$ 60 até dezembro. Para os analistas, a queda vai se acentuar no segundo trimestre.

A maior produtora do mundo de minério, a Vale, é a que aposta mais alto na cotação da matéria-prima durante 2017. De acordo com Peter Poppinga, diretor da área de ferrosos da Vale, os preços do minério serão significativamente maiores em 2017 do que foram no ano passado. O executivo acredita em nível pelo menos acima de US$ 70 na média anual - podendo ultrapassar até os US$ 80. Para ele, a demanda por aço está "nitidamente" maior até agora, enquanto a oferta surpreende para baixo ante o que se esperava.

A anglo-australiana Rio Tinto, segunda maior produtora, não vê espaço para quedas brutais. A companhia já chegou a declarar que a tendência não é de um colapso porque os fundamentos macroeconômicos da China, maior compradora global, seguem fortes. Além disso, a demanda por produtos de maior qualidade, como os que a empresa e sua concorrente Vale exportam, está se sustentando.

Essa procura por um minério mais puro e que garante mais rentabilidade às siderúrgicas foi eleita por analistas - todos pegos no contrapé com a disparada do minério - como um dos grandes motivos pela alta até agora.

Das três maiores do mundo, a terceira, a também anglo-australiana BHP Billiton, é a mais conservadora nas projeções. A companhia afirmou que o repique de preços do minério deve arrefecer no curto prazo. Os motivos citados foram um crescimento mais moderado da procura chinesa, os estoques em portos do país atingindo recordes e a oferta de baixo custo a entrar no mercado em breve, com o S11D, da Vale.

Mas há um potencial problema que vem com a melhora nos balanços. Para a casa de análise de dívida CreditSights, os setores de mineração e metais voltaram a ter um risco histórico: investir. Segundo os analistas Wen Li e Mark Cheok, as empresas parecem ter desacelerado o processo de redução da alavancagem e enxugamento de operações.
Entre as 24 companhias que a instituição cobre, expectativa é de geração de fluxo de caixa livre em US$ 700 bilhões durante 2017. No ano passado, foram US$ 500 bilhões, e no anterior, apenas algo em torno de US$ 110 bilhões.

Mas, apesar da perspectiva melhor, por conta das iniciativas recentes de eficiência operacional e financeira aliadas à alta dos preços, a CreditSights crê que o cenário macroeconômico ainda traz questões estruturais para o crescimento em longo prazo, entre a desaceleração da China e as dúvidas quanto à política de Donald Trump nos Estados Unidos.

"Para esse setor, não necessariamente é o ciclo de queda que destrói valor para o acionista e o credor, mas principalmente a falta de preparação para esse momento", dizem os analistas em relatório. "Há numerosos exemplos de empresas que foram agressivas e fizeram aquisições grandes e alavancadas, ou iniciaram projetos de muitos anos e muitos bilhões de dólares no pico do ciclo e amargaram o desastre quando houve reversão."

Atualmente, é exceção à regra a empresa que continua focando na redução da alavancagem e vendas de ativos, diz. A Vale é uma delas.

Fonte: Valor Econômico
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