Reconhecido como a Nação das Startups, o país do Oriente Médio é exemplo de como o investimento em tecnologia e uma Cultura empreendedora podem ser o caminho para vencer os mais variados tipos de adversidades
Se você ainda tem dúvidas de que o estímulo à inovação traz profundas transformações e um ciclo de prosperidade para um país, então você precisa conhecer um pouco mais sobre a jornada tecnológica de Israel, a “Nação das Startups”.
Com pouco mais de 8 milhões de habitantes e um território menor do que o estado de Sergipe, o país tem 60% de sua área ocupada por um deserto. Historicamente, é assolado por diversos conflitos militares e sofre com a alta escassez de recursos naturais, um mercado interno limitado e a falta de parceiros comerciais em seu entorno.
Mesmo assim, é dono de um Produto Interno Bruto (PIB) superior a US$ 400 bilhões e se tornou um dos melhores exemplos da capacidade que a inovação tem de impulsionar uma economia.
Lá se concentra o maior número de startups per capita do mundo – em média, uma para cada 1,2 mil pessoas. Não bastante, estima-se que a cada ano, nascem 1,4 mil startups em Israel - uma a cada 6 horas. O setor de tecnologia e inovação representa 15% do PIB do país e equivale a 50% da exportação da indústria local.
Grande parte das empresas de tecnologia de Israel está em Silicon Wadi, que é o segundo maior centro de inovação do mundo. Perde apenas para o Silicon Valley, na Califórnia, Estados Unidos.
O país é berço de empresas como Waze, Viber e Wix, bem como o destino de grandes multinacionais para instalação de seus centros de pesquisa de alta tecnologia. Pelo menos, 300 delas já foram atraídas pelo ambiente de negócios proporcionado pelo governo israelense, entre elas, Microsoft, IBM, Apple, Cisco, HP e Intel.
Imersão
No início do ano, o Senai liderou uma imersão Israel. Durante seis dias, um grupo de representantes do setor produtivo, da academia, do governo e investidores pode entender como funciona o ecossistema de inovação do país e quais as ferramentas viabilizaram as experiências bem-sucedidas dos negócios disruptivos criados pelos israelenses.
As visitas técnicas realizadas a startups, grandes empresas, laboratórios, centros de pesquisa e desenvolvimento, universidades referências na área foram aproveitadas pelo time de inovação do Senai como benchmarking para o Findeslab, que viria a entrar em operação meses depois.
Os Insights e know-how adquiridos pela equipe em Israel foram aplicados no hub de inovação para ajudar a indústria a solucionar os seus desafios e agregar valor ao ecossistema capixaba.
“A cultura do empreendedorismo não é estabelecida de um ano para o outro. É um longo caminho. Na imersão, vimos que Israel realizou muitas ações até chegar ao nível que está hoje. Entretanto, essa experiência também nos mostrou que estamos indo pelo caminho certo”, comentou Juliana Gavini, diretora de Tecnologia, Inovação e Produtividade do Senai.
Como Israel se tornou a Start-up Nation
Ainda curioso sobre como Israel, em suas sete décadas de independência, se tornou o país mais inovador do mundo Então, continue sua leitura e conheça alguns dos fatores apontados como determinantes para que o país se tornasse a nação das startups.
– Planejamento
Um ecossistema de inovação não é criado e nem fortalecido do dia para a noite. É necessário estratégias e um plano de ações com metas de médio e longo prazo. E esse foi o primeiro passo dado para Israel para se tornar a potência que é hoje: traçou ações bem estruturadas, com direcionamento e propósito bem claros e envolveu todo o país no processo.
– Adversidades como oportunidades
Há oportunidade em meio à adversidade. Isso é algo que o senso de sobrevivência ensina aos israelenses desde cedo. E foi assim que a nação conseguiu transformar suas fraquezas em forças. Hoje, o país é referência em tecnologias de dessalinização da água do mar e exporta seu conhecimento na área para outras regiões do mundo que sofrem com secas e estiagens prolongadas, como a Califórnia. A expertise veio da necessidade de se encontrar uma saída para a escassez de fontes hídricas, condição imposta por estar localizado em meio ao deserto. O país também exportou a técnica de irrigação, criada para tornar férteis as suas terras desérticas. Produzir produtos e serviços em escala global é a estratégia de Israel para vencer duas de suas principais barreiras: o mercado interno limitado e a falta de parceiros comerciais no entorno, devido aos conflitos militares.
– Empreendedorismo como cultura
Não seria exagero dizer que os israelenses respiram o empreendedorismo desde a infância. É nesse período da vida que começam a ser estimulados – pela família, por professores e pelo governo -, a terem um pensamento inovador e criarem formas de ganhar dinheiro. O Exército de Israel é peça fundamental dessa cultura empreendedora. Ao concluir o ensino básico, todos os cidadãos são obrigados a prestar o serviço militar: homens, por três anos; mulheres, por dois anos. Por lá, eles aprendem a serem líderes, a lidar com responsabilidades, tomar decisões, serem flexíveis, questionar hierarquia e a trabalhar em grupo. Essa experiência também pode proporcionar o primeiro contato do jovem com a tecnologia de ponta. As Forças Armadas possuem orçamento para desenvolver, em suas unidades de inteligência e tecnologia, soluções para a segurança nacional. Essas criações também são usadas para fins civis, para ajudar a população em desafios cotidianos. É bem comum que, após encerrar o serviço militar, que os jovens abram uma startup. Um exemplo é clássico é a fundação do Waze.
– União de forças
A inovação só acontece quando é estabelecido um diálogo entre os atores do ecossistema em prol de ações comuns. E esse dever de casa Israel fez, ao criar conexões sólidas entre governo, setor produtivo, startups, micro e pequenas empresas de base tecnológica, investidores e a academia. Essa união de forças foi principal fator para o país alcançasse o patamar que se encontra hoje, como apontou Dori Goren, o então cônsul-geral de Israel em São Paulo, no Start Jerusalem 2018.
– Investimento em Educação, Pesquisa e Desenvolvimento
O governo de Israel investe o maior percentual do seu PIB em pesquisa e desenvolvimento (P&B), cerca 5%. Esse é um dos grandes diferenciais do país quando o assunto é inovação. Em termos comparativos, Brasil investe apenas 1,2% de seu PIB na área. O culto ao conhecimento e a valorização da Educação são fortes no país, que possui um dos maiores índices de formação universitária do mundo, cerca de 46% da população. A qualidade começa ainda no ensino básico, onde as escolas ajudam na inserção da tecnologia e do empreendedorismo na rotina dos alunos. Na universidade, há incentivos à inovação e desenvolvimento de startups.
– Políticas públicas
Várias são as polícias de estímulo ao empreendedorismo do governo de Israel. Elas vão desde linhas de crédito especiais para novos negócios, passando por auxílio para vencer a burocracia do dia a dia. Há ainda um incentivo para que órgãos públicos comprem produtos desenvolvidos por startups e de pequenas e médias empresas inovadoras.
– Fracasso como parte do sucesso
Na Nação das Startups, a palavra fracasso ganha um novo sentido. Eles valorizam as falhas e as reconhecem como parte do processo de desenvolvimento. Ainda, entendem que riscos são parte da inovação e, por isso, incentivam os experimentos nos negócios. Outra característica interessante é o incentivo a toda e qualquer ideia de novos negócios. É da natureza dos empreendedores mais experientes do país dar feedback aos projetos dos novatos e acionar sua rede de contatos para viabilizar a sua execução.