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Publicado: 20/09/2017 00:00h

Otimismo moderado para o minério de ferro

Otimismo moderado para o minério de ferro
Os economistas e analistas especialistas em commodities minerais estão conservadoramente otimistas em relação ao preço futuro do minério de ferro no médio prazo. Segundo quatro destes especialistas, que participam da mesa "Mercado Global de Preços das Commodities Minerais: perspectivas e tendências", no 17º Congresso Brasileiro de Mineração, em Belo Horizonte, o preço do minério de ferro, com teor de 62% entregue na China, deve se manter no patamar atual, em torno de US$ 70 a tonelada, ou refluir ligeiramente no próximo ano. Mas defendem que não há perspectiva de pressões baixistas que venham a derrubar as cotações para baixo dos US$ 60 a tonelada até o fim de 2018.

No ano, o minério acumula queda de 12,7%, mesmo percentual de recuo registrado em setembro. Do pico recente registrado em 22 de fevereiro, de US$ 94,30, a cotação retrocede 27%. Todavia, a commodity deve terminar o terceiro trimestre com desempenho forte. Até agora, a média de preços é de US$ 72,39, 14,9% a mais do que entre abril e junho e alta de 24% em relação ao mesmo período de 2016. Considerando os últimos onze trimestres, o atual preço médio só perde para os US$ 85,63 do primeiro trimestre deste ano.

Ed Rawle, chefe de pesquisa de mercado e especialista em commodities da Wood Mackensie, disse que a recuperação dos preços no último um ano e meio garantiu oxigênio para as grandes mineradoras, mas que os preços tendem a cair e manterem-se próximos dos US$ 60 a tonelada até a eliminação de parte significativa do excesso de oferta existente hoje no mundo, avaliada por ele entre 60 milhões e 80 milhões de toneladas. Ante este quadro de ajuste, Rawle acredita que estamos, hoje, no pico de preços do atual ciclo de recuperação, mas que a tendência natural é de que a cotação oscile próximo dos US$ 60 a tonelada pelo menos até o fim de 2018, o que tiraria do mercado capacidades menos produtivas e que trabalham com minérios mais pobres.

Paul Fraser Robinson, Diretor do CRU Group, do Reino Unido, concorda que não existe justificativa de demanda para a continuada alta dos preços, mas acredita na manutenção de margens saudáveis, principalmente para minérios de alto teor. "Com o coque metalúrgico a US$ 320 a tonelada, as siderúrgicas estão pagando bons 'spreads' pelo minério de maior concentração", disse.

John Mothersole, diretor de Pesquisa do IHS Markit, dos Estados Unidos, a desaceleração do crescimento da China é fator inibidor da manutenção da evolução positiva dos preços do minério. Em contraposição, a normalização de taxas de juros pós-recessão leva a uma mudança na posição dos investidores para o complexo de commodities no curto prazo. Ele também citou a imposição de limitações das importações chinesas de sucatas e retorno das siderúrgicas ao minério primário. Colocadas as variáveis na balança, a tendência seria de estabilidade, com fraco viés de recuo das cotações em 2018.

Já Sigurd Ivo Mareels, analista da McKinsey & Company, disse que a correção dos preços desde a grande depressão de 2015 se deu pela paulatina absorção da sobrecapacidade mundial pela China, que fechou uma série de minas domésticas e passou a importar mais. Segundo ele, os riscos futuros recaem basicamente sobre os produtores de minério de baixa qualidade, já que a diferenciação de preços e o pagamento de prêmio por qualidade é uma tendência.

"Apesar da recuperação, uma certa sobrecapacidade vai continuar. Estamos otimistas, mas existem riscos", disse ele, que aponta o comportamento do preço do petróleo e sua influência sobre a cotação do minério de ferro como o maior deles.

Apesar da perspectiva de estabilidade dos preços do ferro em bom patamar, Paul Fraser Robinson, da CRU Group, disse que as melhores perspectivas futuras estão abertas para os minerais ligados à geração verde de energia, como cobre, zinco e cobalto. "Os investidores deveriam olhar mais detidamente para estes produtos, que sinalizam melhor retorno médio e longo prazos", afirmou. Estes minerais estão ligados ao mercado de fabricação de veículos elétricos e híbridos que, segundo Robinson, terão aumento continuado de demanda nos próximos anos.

"Já começa a faltar concentrados. Simplesmente não há unidades para compensar o declínio continuado de zinco, por exemplo. Este é o (segmento do setor) mais sensível para picos de preços", afirmou. A exceção seria o lítio, também usado na fabricação de baterias, mas onde "já existem projetos demais". Segundo Robinson, as mineradoras e investidores em mineração devem procurar estar em algum nível expostos à evolução verde da geração de energia, que além dos veículos elétricos inclui as turbinas eólicas e os painéis fotovoltáicos. "Acredito que não haverá grande pressão de preços até o fim da década, mas trata-se de uma tendência, de um movimento irreversível, e é bom estar exposto a ele".

Fonte: Valor Econômico
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