A Vale começa a mostrar quais serão as novas diretrizes da empresa na gestão de Fabio Schvartsman, que tomou posse como presidente há pouco mais de dois meses. Ontem, na divulgação de resultados da mineradora no segundo trimestre, ficaram claras algumas das mudanças operacionais que serão implementadas. O negócio de níquel vai trabalhar com preços presentes, mais realistas do que as previsões futuras que vinham sustentando os investimentos nessa divisão. A redução da dívida será aprofundada, indo além da meta de atingir endividamento líquido de US$ 15 bilhões. No minério de ferro, pode haver redução de custos adicional de US$ 1,5 por tonelada a partir de uma análise que será feita, inicialmente, nas pelotizadoras de Tubarão, em Vitória (ES), mas que deve se estender para outras áreas da companhia.
Em sua primeira participação em teleconferência de divulgação de resultados da Vale, Schvartsman reconheceu que o resultado do segundo trimestre foi mais fraco do que o esperado. A Vale teve receita líquida de R$ 23,3 bilhões de abril a junho, alta de 8,3% sobre igual período do ano passado; o lucro antes de juros impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi de R$ 8,8 bilhões, aumento de 7,4% na mesma base de comparação; e o lucro líquido ficou em R$ 60 milhões, queda de 98,3% sobre o segundo trimestre de 2016.
O lucro sofreu impacto de variações cambiais no período, relacionado à desvalorização do real frente ao dólar. Schvartsman indicou que os resultados devem vir melhores no terceiro trimestre do ano, considerando preços mais altos no mercado e também os preços realizados pela companhia.
Schvartsman disse que o resultado da Vale no segundo trimestre foi afetado pela queda nos preços, em especial do minério de ferro, por um menor volume de vendas da commodity e por efeitos "não recorrentes". De abril a junho, a Vale vendeu 69 milhões de toneladas de finos de minério, 5% abaixo das 72,6 milhões de toneladas do mesmo período de 2016. O menor volume vendido se relaciona com o aumento dos estoques de minério nos portos chineses. O diretor de ferrosos da Vale, Peter Poppinga, disse que nos últimos 60 dias a Vale vendeu um milhão de toneladas de minério em moeda local (Renminbi) no mercado chinês para 20 clientes novos com os quais a empresa não tinha relação direta.
No trimestre, o preço de realização da Vale para os finos de minério de ferro foi de US$ 51,35 a tonelada, 6,3% acima dos US$ 48,30 do mesmo período do ano passado, mas 32,2% abaixo dos US$ 75,78 a tonelada do primeiro trimestre do ano. Entre o primeiro e o segundo trimestres de 2017, o preço do minério caiu 27%. O custo de produção do minério de ferro da Vale até o porto ficou em US$ 15,2 por tonelada, 15% acima de igual período de 2016.
Na apresentação aos analistas, Schvartsman disse que já tem em mãos o diagnóstico feito por uma equipe de 17 diretores da Vale que vai indicar o caminho a ser seguido pela mineradora. "O diagnóstico me dá clareza e segurança sobre as questões da companhia", afirmou. O trabalho ainda será submetido ao conselho de administração da Vale, mas o executivo adiantou alguns pontos.
O mais relevante é a mudança a ser implementada na área de níquel. A ideia é não trabalhar mais com a expectativa de preços elevados para o futuro, como a Vale vinha fazendo, e que justificaram investimentos vultuosos no negócio. "O níquel foi operado nos últimos anos pela Vale com expectativa de resultados no futuro. Se investiu em novas minas, refinarias e usinas com a expectativa de que haveria um belo futuro à frente se e quando o preço fosse maior do que o atual. Agora decidimos parar de sonhar com um preço maior, que não existe. Vamos fazer desse negócio um negócio viável e rentável nas condições vigentes", disse Schvartsman em teleconferência com a imprensa.
Essa decisão fará com que a Vale pare de investir em novas capacidade de produção de níquel, mercado que está sobreofertado. E também poderá parar de investir em reposição de capacidade existente. Ao seguir por esse caminho, haverá oportunidades de redução de custos que antes não havia, abrindo espaço para tornar as operações rentáveis, disse o executivo. O caso emblemático das dificuldades nesse negócio é a Vale Nova Caledônia (VNC), na Polinésia francesa, onde se investiu bilhões sem resultados. Schvartsman disse que não é o objetivo fechar a VNC, mas se não for encontrada solução o fechamento terá que ser enfrentado.
O presidente da Vale disse também que a empresa vai perseguir redução da dívida que aprofunde a meta de atingir endividamento líquido de US$ 15 bilhões. Na visão dele, para uma empresa como a Vale, dependente de uma commodity marcada pela volatilidade, uma dívida de US$ 15 bilhões é muito alta. A empresa encerrou o segundo trimestre com dívida líquida de US$ 22,1 bilhões, ante US$ 27,5 bilhões no segundo trimestre de 2016. Schvartsman também previu, em estimativa "conservadora", que o trabalho de redução de custos no negócio de ferrosos pode criar um ganho adicional de US$ 1,5 por tonelada.