As commodities industriais voltaram a operar em descompasso durante fevereiro. Enquanto o petróleo confirmou sua perda de força, principalmente por conta da alta do dólar e da maior produção nos Estados Unidos, o minério de ferro surpreendeu e registrou nova valorização.
Já é o quarto mês consecutivo em que o minério sobe. No mês passado, a alta foi de 7,8%, para US$ 78,61 a tonelada. O ritmo estava mais rápido pós-Ano Novo chinês, dada a perspectiva de continuidade das reformas siderúrgicas no gigante asiático, mas o país apresentou atividade quase estagnada na manufatura durante fevereiro, o que derrubou a cotação.
O índice da "Metal Bulletin" acompanha o produto com concentração média de 62% entregue no porto de Qingdao.
A resistência da commodity em cair fez com que a consultoria BMI Research, ligada à agência de classificação de risco Fitch, elevasse sua estimativa - conservadora ante o resto do mercado - para a média do ano, de US$ 50 para US$ 55. Mesmo assim, a instituição aposta que a tendência é que o desempenho arrefeça no restante do ano, com menores lançamentos da construção.
Até que a reversão dos preços ocorra, porém, o banco Julius Baer afirma que a instabilidade vai reinar no mercado de minério. As maiores incertezas são a redução ou não de capacidade siderúrgica na China, o aumento da oferta mundial e o protecionismo americano ao aço.
Até agora no ano, a cotação média gira em torno de US$ 76,50, contra US$ 71,40 durante 2017. Levantamento do Valor com 13 instituições financeiras aponta o nível de US$ 61,50.
Na direção oposta, o petróleo encerrou a sequência também de quatro meses seguidos no azul para cair em fevereiro, principalmente por conta dos temores do mercado de um excesso de oferta. O segundo contrato do Brent caiu 5,5% na ICE Futures de Londres, para US$ 64,73 o barril, enquanto o WTI recuou 4,3%, para US$ 61,47, em Nova York.
"Os agentes do mercado de petróleo se perguntam todos os dias quanto ao futuro do acordo de contenção de oferta", afirma o Julius Baer, referindo-se ao acordo entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados para reduzir a atividade até o fim do ano. "Os países desejam que a cooperação entre a Opep e principalmente a Rússia se torne mais duradoura."
O banco alemão Commerzbank explica que o fortalecimento do dólar desde o começo do ano tem aumentado a pressão sobre os preços da commodity. Em geral, produtos cotados na moeda americana têm correlação negativa com a divisa. Na falta de notícias de fundamentos, o movimento do câmbio exerceu influência mais relevante no mês.
Mas já na última semana, os estoques dos EUA avançaram em quase 1 milhão de barris, superando as estimativas e revertendo uma tendência de diminuição anterior. Para piorar a situação, a produção americana continua a subir, inundando o mercado.
"Acreditamos que os preços vão cair mais neste ano, assim que começar a ficar aparente que a oferta dos EUA vai superar em muito o crescimento da demanda mundial", diz a consultoria Capital Economics.
A média de preços do Brent até agora em 2018 bate US$ 66,90. Levantamento do Valor com 14 instituições mostra previsão de US$ 60 para o ano todo.
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