A Petrobras pretende vender 60% de sua participação nas refinarias dos polos do Nordeste e Sul, como parte de seu programa de parcerias e desinvestimento. O tão aguardado modelo de venda dos ativos de refino foi apresentado ontem pela empresa, que espera iniciar nos próximos meses o processo de privatização de quatro de suas 13 unidades. O presidente da petroleira, Pedro Parente, disse acreditar ser possível anunciar algum acordo ainda este ano, e concluir o negócio em 2019.
"Não é [um processo de desinvestimentos] simples, vai levar o ano todo, com certeza", disse Parente, a jornalistas, após apresentar o reposicionamento da estatal no refino para executivos do setor de óleo e gás.
De acordo com a versão preliminar apresentada pela Petrobras ao mercado, ontem, serão colocados à venda pela companhia uma fatia de 60% de dois polos regionais. O do Sul é composto pelas refinarias Refap (RS) e Repar (PR), que correspondem a 18% da capacidade de processamento no Brasil e inclui, ainda, sete terminais e nove dutos associados aos ativos.
Já o polo Nordeste será composto pelas refinarias Rlam (BA) e Rnest (PE), que concentra 19% da capacidade nacional de refino, mais cinco terminais e 15 dutos. As unidades de Clara Camarão (RN) e Lubnor (CE) foram mantidas de fora do pacote de desinvestimentos.
Segundo Parente, a expectativa da companhia é aprovar internamente a modelagem final do processo "em duas ou três semanas". A intenção da Petrobras é colocar os dois polos à venda simultaneamente e atrair um sócio diferente para cada um deles. A estimativa é que a estatal possa levantar até US$ 5 bilhões com a venda dos dois pacotes, de acordo com um analista de um grande banco de investimentos, que preferiu não se identificar.
Parente descartou, por ora, incluir as refinarias do Sudeste no programa. "O polo Sudeste teria uma complexidade muito grande]", disse. "[Os polos do Nordeste e Sul] Não têm questões que complicariam a discussão, como por exemplo uma obra que hoje não produz, como o Comperj, que traria discussões complicadas sobre valoração [do ativo]. Houve um grande investimento realizado naquela obra e que não produz. E uma das maneiras de se fazer valoração de um ativo é pelo seu fluxo de caixa. E ele [Comperj] não tem", explicou.
Parente disse, ainda, que as conversas com os chineses para uma possível parceria nas obras de conclusão da refinaria do Comperj continuam, em paralelo à construção da modelagem do programa de parcerias e desinvestimentos no setor. Ele negou, contudo, que o acordo já tenha sido fechado. No ano passado, Petrobras e a estatal chinesa CNPC firmaram um acordo de cooperação que avalia, entre outras áreas, potenciais parcerias em refino no Rio de Janeiro.
Pelo modelo sugerido, a Petrobras ficará com uma fatia de 40% nos dois polos e manterá, ainda, uma participação de 100% nas demais nove refinarias da companhia. A previsão da companhia é que, com a modelagem estudada, a fatia de mercado da empresa no refino nacional caia de 99% para 75%.
Na avaliação do consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o reposicionamento da Petrobras vai na direção correta, mas é "tímido". Segundo o economista, a estatal deveria vender integralmente os blocos de refinarias do Nordeste e Sul, ao invés de oferecer uma fatia de 60%.
Pires acredita que a venda integral desses ativos aumentaria o valor dos empreendimentos para a estatal, além de tornar o mercado de refino brasileiro mais competitivo.
"Por que não vende-los [os blocos do Nordeste e Sul] 100%?. Vai melhorar o valor do ativo. Se vender 100% vai ter um mercado [de refino] mais competitivo. A Petrobras não abriria mão de sua posição dominante no mercado de refino e teria um mercado mais competitivo", afirmou.