A sustentabilidade só passa a existir quando se torna um valor e, no entanto, a sustentabilidade depende de outros valores para se tornar realidade - na vida das pessoas e das empresas.
Sei que muitos leitores vão estranhar essa afirmação. Afinal, não fica bem falar de sentimentos no mundo corporativo, nem parece muito sensato nas palavras de um engenheiro, mas sustentabilidade é uma forma de expressar amor e só a consegue quem se permite amar - amar o que faz, amar a Terra que tudo nos dá, amar o ser humano, os de agora e os que estão por vir. Quando você constatar que não se consegue implantar a sustentabilidade observe que deu errado porque faltou amor.
É difícil falar de sustentabilidade sem invocar o conceito de Desenvolvido Sustentável que, em última análise, nos diz que devemos exercer o direito de usarmos os recursos que estão ao nosso dispor, sem nos esquecermos do direito das gerações futuras de terem acesso a esses mesmos recursos. Uma pessoa que não ama o seu próximo vai se interessar por garantir o futuro de um próximo que nem sequer ainda nasceu? Não, não vai. Só vai fazer isso quem ama o ser humano, quem se sente parte de uma espécie que compartilha o planeta com outras e se sente responsável por si e pelo todo.
O poeta inglês John Donne, que viveu de 1572 a 1631 nos disse que “... a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E, por isso, não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.” (Meditações VII). De certo, quem não tem amor pelo seu semelhante não vai ouvir os sinos, não vai se preocupar com a vida, com os males que causamos pela insensatez de pensarmos que temos direito ilimitado a tudo que a natureza nos proporciona. Se não ouvimos os sinos somos apenas predadores, interessados no poder, no dinheiro, no lucro fácil. Transformamo-nos em instrumentos da ganância, a quem servimos em detrimento da vida.
Quem não ama o que faz tão pouco se interessa em evitar desperdícios, em ser mais produtivo, em fazer certo para não fazer de novo. Também não vê nenhuma vantagem em ter um trabalho, em garantir o futuro da empresa para que continue a gerar renda, para si e para outras pessoas, gerar impostos para o bem comum, gerar desenvolvimento para a melhoria da vida das pessoas. O trabalho transforma-se, apenas, em sofrimento.
Quem dirige uma empresa para ser apenas cada vez mais rico não a projeta para o futuro em longo prazo, não entende o que é responsabilidade social, não se sente responsável pela vida das pessoas que precisam da empresa. Não enxerga a cadeia de valor a que pertence. Quem, assim, investirá na preservação de recursos naturais, pensará no valor dos serviços ecossistêmicos, adotará energias limpas, buscará ganhar sem destruir, gerar riqueza e não apenas dinheiro?
Por isso, não duvide e nem se iluda - sustentabilidade é um valor. Quem suja uma praia, um rio, um mangue, quem passa a frente dos outros numa fila, quem estaciona em lugar proibido, quem se apossa do que não lhe pertence, quem não respeita crianças e idosos, não vai entender o que é, e muito menos praticar, sustentabilidade. É uma questão de valores.
Danah Zohar, em seu livro “Capital Espiritual”, considerou esses valores como um capital, uma riqueza, e nos propôs o desafio de buscar um capitalismo sustentável. Precisamos fazer isso antes que seja tarde. Mas, saiba que para encarar essa missão, individual e coletivamente, precisaremos amar a Terra e seus frutos e nos vermos, humildemente, como parte de toda a criação e não mais como a única parte que realmente (e só) interessa.
O Brasil vai mal e é, no momento, o exemplo de um país insustentável. Quem rouba o dinheiro público ama o Brasil? Nossos governantes amam o Brasil? Nós, que elegemos os políticos, que nos representariam, amamos o Brasil? Se quisermos tornar este país um país sustentável é preciso passar a amá-lo. Simplesmente amá-lo.