Mesmo que ela seja negativa
Há pelo menos uma área neste vasto universo dos relacionamentos humanos na qual a máxima do xavequeiro - “o não você já tem” - teima em não se aplicar: respostas a propostas comerciais e orçamentos, mesmo quando devidamente demandadas por um potencial cliente.
Diante da oportunidade de negócio, o candidato a fornecedor coloca sua equipe para trabalhar, às vezes vira noites para atender a um deadline apertado e enviar a proposta de prestação de serviço; capricha na apresentação e encaminha tudo num simpático e-mail. Termina aí a “parte fácil” do trabalho. Começa a longa e imprevisível espera por uma resposta, que, se for negativa, provavelmente nunca virá. Em algum momento da longa história do embrutecimento das relações profissionais, tornou-se comum dar apenas respostas positivas a terceiros. O não, neste caso, você não tem nunca. Se a empresa pede orçamentos a três possíveis fornecedores, somente o escolhido receberá resposta. Subentende-se que o silêncio bastará aos outros dois.
Não basta. A não resposta obriga o fornecedor a fazer o papel do chato que mendiga o retorno que merecia receber espontaneamente. Deixa-o no escuro, sem saber se ainda está no páreo, se perdeu pelo preço ou pela qualidade. Incapaz de se preparar melhor para a próxima.
A justificativa padrão para não dar resposta, claro, é a falta de tempo. Se só vou fechar negócio com um, por que perder tempo com justificativas aos demais? Bons modos e etiqueta à parte, porque assim se criam e são mantidos bons relacionamentos com parceiros que se sentirão respeitados e informados sobre o que é mais relevante numa concorrência em sua companhia.
A falta de tempo é generalizada, mas abrir uns minutos na agenda para dar respostas a quem trabalhou para você não pode ser tão complicado. Em geral, basta um retorno assim que chega a proposta - “Recebido, obrigado, decidiremos até dia tal” - e outro quando o vencedor é escolhido. Basta dizer aos demais que a concorrência está encerrada, a companhia optou por outro fornecedor, e (sempre que possível) o que pesou na decisão. Coisa de duas linhas, menos de dez minutos. Duvido que você invista menos tempo naquele grupo de piadas no WhatsApp.
Tenho visto gente criativa, produtiva e cheia de responsabilidades usando soluções das mais simples para abrir espaço em seus dias para se relacionar direito com diferentes públicos. O CEO de uma agência de propaganda cancelou todas as newsletters que recebia por e-mail e, da noite para o dia, se viu com tempo extra para clientes, funcionários e fornecedores. Para os momentos de sobrecarga, um empreendedor ambiental criou uma resposta automática com o título “e-mail overflow - excesso de e-mails”. Ele avisa: “Não estou mais conseguindo responder a e-mails de pronto. Peço licença, antecipadamente, para responder sem pressa - o que pode levar até mais de uma semana”. Assim, ganha tempo para fazer uma triagem criteriosa do que precisa de retorno e estabelece prioridades. É preciso achar tempo para dizer “não, obrigado”.
O autor é jornalista,
palestrante e autor dos livros
“Felicidade S.A.” e “De Dentro Para Fora”.