Paper Excellence (PE), dos mesmos donos da Asia Pulp and Paper (APP), acelerou a entrada no capital da Eldorado Brasil, produtora de celulose da J&F Investimentos. Com desembolso de R$ 3,69 bilhões, integralmente em recursos próprios, a empresa da família Widjaja alcançou participação de 47,4% na companhia brasileira, bem acima do previsto originalmente para essa etapa da transação.
A PE oficializou ontem a compra de mais 34,45% da Eldorado, ao assumir as fatias dos fundos de pensão Petros (dos funcionários da Petrobras) e Funcef (da Caixa), além de uma participação adicional da própria J&F. Com essa rodada de aquisições, ficou com todas as ações da Eldorado que não foram dadas como garantia em financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Originalmente, o contrato entre PE e J&F previa que, ao final da primeira etapa de compra da Eldorado, a nova acionista teria participação máxima de até 34,45% caso os fundos optassem por exercer o direito de venda conjunta de suas ações (tag along). Praticamente no ato, a PE já havia assumido fatia minoritária de 13%.
Num segundo momento, com prazo até setembro de 2018, serão compradas as ações remanescentes da J&F e as pertencentes ao FIP Olímpia, do ex-presidente da companhia José Carlos Grubisich.
A diferença em relação ao acordo inicial é que, ao invés de levar mais 4% de ações da J&F além dos 13% comprados inicialmente, a PE manifestou aos Batista o interesse em ampliar essa fatia intermediária diante da disponibilidade de caixa, apurou o Valor. Com a anuência dos controladores, chegou a 47,4% de participação.
O momento positivo do mercado global de celulose, com preços em alta, também contribuiu para a decisão da PE de acelerar a compra de ações da Eldorado. O contrato assinado em setembro é baseado em valor de empresa de R$ 15 bilhões, dos quais R$ 7,5 bilhões de dívida líquida. Com maior geração de caixa, o "equity" fica mais caro.
Do total pago pela PE até agora, R$ 2,36 bilhões tiveram como destino a J&F, holding da família Batista. Neste momento, por uma fatia adicional de 17,39%, a empresa pagou R$ 1,36 bilhão à controladora da Eldorado. No fim de setembro, pouco depois da assinatura do acordo de compra e venda, já havia pago R$ 1 bilhão à própria J&F pela fatia minoritária de 13%.
Aos fundos de pensão Petros e Funcef, que em 2009 investiram R$ 275 milhões cada um no FIP Florestal, acionista direto da Eldorado, caberão R$ 665,96 milhões, ou pouco mais de R$ 1,33 bilhão no total.
O investimento dos fundos na companhia foi alvo de investigações da Polícia Federal e incluído no acordo de delação premiada de Joesley Batista. O empresário admitiu que aportes em negócios da J&F envolveram pagamento de propina a dirigentes dos fundos e políticos. Para o Ministério Público Federal (MPF), os fundos teriam sofrido prejuízo com o investimento no FIP Florestal. Diante disso, ficou acertado em acordo de leniência que cada fundação receberá R$ 1,7 bilhão da J&F.
Ao assumir a fatia dos fundos de pensão na Eldorado, a Paper Excellence teria direito a indicar um conselheiro. Mas o Valor apurou que a empresa não exercerá esse direito neste momento, para se concentrar nas conversas com bancos para financiamento da compra do restante da Eldorado. As negociações estão em curso om ao menos duas instituições financeiras: o China Development Bank (CDB) e o Industrial and Commercial Bank of China (ICBC).
A Petros informou que recebeu R$ 665,7 milhões pelo negócio. Em maio, o ativo foi precificado na carteira do plano PPSP, que concentrou os aportes no fundo de investimentos em participações, em R$ 388 milhões. "Considerando o investimento total da fundação, de R$ 272,250 milhões em dois aportes entre 2009 e 2010, a rentabilidade obtida no período (159,64%) ficou no patamar da meta atuarial (159,96%)."
Em nota publicada em seu site, a Funcef informou "que as condições finais da venda lhe permitiram atingir as metas atuariais de seus planos".