Por Aureo Leal - O autor possui graduação em Engenharia Aeronáutica, pós-graduação em Administração de Empresas e mestrado em Administração. Já ocupou cargos de diretoria no Brasil e nos EUA e hoje é Sócio-Diretor da Greens Consult, que atua expressivamente nas áreas de controladoria, finanças, sistemas, suprimentos e meio ambiente.
Acredito que a maioria dos executivos deve concordar se alguém disser que uma lista dos temas que tem se tornado frequentes na formulação da estratégia das empresas deve incluir inovação e sustentabilidade. Convido o leitor a pensar nesses dois temas e a discutir como eles podem estar interrelacionados. É natural que executar seja mais fácil do que inovar. Melhorar modelos de negócio existentes parece ser o caminho menos arriscado. Porém, há exemplos que nos desafiam a pensar diferente. Em artigo publicado em abril de 2015, a consultoria McKinsey nos lembrou que John F. Kennedy, no distante ano de 1962, criou um ambiente extremamente favorável à inovação, quando desafiou a ciência e a indústria norte-americana a “ir à lua nesta década”.
A inovação tornou-se urgente, especialmente para os setores conservadores da economia. Mesmo em territórios cuja demanda por capital seja intensa, o fenômeno se repete. É o caso do setor de energia, que vivencia uma verdadeira revolução: quem poderia imaginar que a Tesla, considerada o fabricante de veículos elétricos mais popular e reconhecida, pudesse no seu 17º aniversário ser avaliada pelo mercado na ordem 700 bilhões de dólares, enquanto a centenária General Motors encontra-se na casa de 150 bilhões de dólares?
Simultaneamente à contínua necessidade de inovar, consumidores mais sofisticados e o mercado financeiro global vêm consolidando a percepção de que não há alternativas ao desenvolvimento sustentável, ou seja, o desenvolvimento que atende às necessidades do presente, sem comprometer o atendimento das necessidades das gerações futuras.
Apesar da sinalização do mercado, há quem esteja convencido que investimentos relacionados à sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa podem prejudicar a competitividade, pois representam custos, sem benefícios imediatos. Assim, há que escolher entre promover o desenvolvimento sustentável e manter-se eficiente econômica e financeiramente. Será que esse dilema é justificável? Não há dúvida que o caminho é longo e tortuoso. Isso nos leva ao nosso título: inovação e sustentabilidade podem estar interrelacionadas? Então vejamos: incluir hoje compromissos socioambientais e de governança corporativa nos planos estratégicos força o pioneirismo, demanda criatividade, que por sua vez traduz-se em inovação. Ora, a chave para o progresso sempre foi a inovação.
A inovação sempre esteve aliada ao espírito empreendedor e questionador. Quando se discute e se questiona os paradigmas correntes, naturalmente somos levados a buscar alternativas. Que tal fazermos agora perguntas como: as embalagens biodegradáveis podem ajudar a semear a terra com plantas e árvores? Podemos aumentar nossa produção de soja e proteína sem desmatar? Podemos construir um modelo de negócio em que o fornecedor seja responsável pelo ciclo de vida completo do produto (economia circular ou “craddle-to-craddle”)? Podemos ser auto suficientes na produção de vacinas?