Sinal verde para um possível fim da transmissão da esquistossomose.
Um comitê mundial de cientistas realizou estudo do sequenciamento do DNA do caramujo transmissor da doença e descobriu que o genoma é similar ao humano. O sequenciamento levantou informações-base que devem permitir o bloqueio da transmissão da doença pelo parasita Schistosoma mansoni. O artigo, intitulado Whole genome analysis of a schistosomiasis-transmitting freshwater snail (Análise do genoma do caramujo de água doce Biomphalaria que transmite a esquistossomose), foi publicado na revista Nature, referência mundial de publicações cientificas.
"Um exemplo do estudo é que moléculas quimiorreceptoras que o caramujo usa para se deslocar no ambiente podem ser bloqueadas e inviabilizar a sua sobrevivência. Da mesma forma, os mecanismos de resistência do caramujo ao parasita podem ser explorados geneticamente graças às informações geradas pelo trabalho. E agora, por fim, é possível atuar mais efetivamente para interromper a transmissão do parasita e traçar um mapeamento genético da distribuição desses caramujos”, explica o biologista molecular e pesquisador do Instituto Tecnológico Vale (ITV) de Belém, Guilherme Oliveira, um dos co-autores do artigo.
Como foi realizado o estudo?
Segundo Oliveira, para a pesquisa, que durou quase uma década para ser concluída, foi isolado um caramujo encontrado em Minas Gerais e, a partir desse material biológico, foi extraído o DNA para sequenciar, montar e descrever funcionalmente o genoma. Depois, foi realizado o perfil de expressão dos genes de todos os tecidos do organismo, estudo fundamental para se entender a biologia da espécie.
"Até então, antes do estudo, se fazia a avaliação de uma proteína ou um gene do organismo, ou seja, um aspecto isolado da fisiologia da espécie. Após o sequenciamento do genoma, podemos ver o funcionamento do organismo, do ponto de vista molecular, de maneira global", explica o biologista. O estudo do sequenciamento do genoma da Biomphalaria contribui para o alcance da erradicação mundial da esquistossomose até 2025, meta estabelecida pela OMS.
Como a pesquisa foi coordenada?
A coordenação do estudo foi dos pesquisadores da Universidade do Novo México, nos Estados Unidos, e o sequenciamento do genoma foi realizado na Universidade de Washington também nos EUA, com a participação de dezenas de grupos em todo o mundo. O biologista do ITV esteve à frente do grupo de trabalho brasileiro pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com a colaboração da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais.
Atualmente, já como pesquisador do ITV, Oliveira liderou a análise dos dados produzidos pelo antigo grupo da Fiocruz e coordenou a produção do artigo cientifico submetido à Nature. A elaboração do documento gerou um volume de informação com mais de 200 páginas, disponíveis à comunidade cientifica e acadêmica na busca continua de novas alternativas de combate ao molusco transmissor da esquistossomose.
Sobre a esquistossomose
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 240 milhões de pessoas estão infectadas pela esquistossomose no mundo e outras 700 milhões vivem em áreas de risco. Em locais onde não existe esgotamento sanitário ou o nível de saneamento é baixo, o perigo de contaminação é mais elevado, por conta do ambiente propicio à proliferação da espécie transmissora.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, estima-se que cerca de 1,5 milhão de pessoas vivem em áreas sob o risco de contrair a doença. Os estados das regiões Nordeste e Sudeste são os mais afetados. As áreas endêmicas e focais abrangem 19 estados.
O Instituto Tecnológico Vale
Em 2009, a Vale criou o Instituto Tecnológico Vale (ITV), com o objetivo de buscar soluções inovadoras de médio e longo prazo, que possam melhorar o desempenho operacional da empresa em todas suas etapas, desde a mina até a entrega final do produto ao cliente.
A intenção também é ajudar a gerar mudanças fundamentais nas estruturas de negócios da Vale, com respeito ao meio ambiente e às comunidades. Atualmente o ITV mantém duas unidades: uma em Belém (PA), especializada em questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável; e outra em Ouro Preto (MG), voltada a temas ligados à mineração.