O maior evento do setor na América Latina chegou à Argentina em outubro com conferências internacionais, mostra comercial e oportunidades de networking.
O Alacero Summit 2024, principal evento da indústria siderúrgica de toda a América Latina, recebeu CEOs, diretores corporativos, autoridades governamentais e organismos internacionais nos dias 29 e 30 de outubro no Hotel Hilton Buenos Aires para falar sobre os desafios e oportunidades do setor.
No encontro organizado pela Alacero, entidade civil sem fins lucrativos que reúne a cadeia de valor do aço da América Latina, os grandes temas do presente e do futuro da indústria foram abordados por palestrantes internacionais.
Ezequiel Tavernelli, Diretor Executivo da Alacero, destacou quatro eixos futuros de trabalho para a região durante o fechamento: “Fornecer informação atualizada sobre o comércio internacional, os nossos produtos e os produtos da cadeia de valor; transferir e promover questões-chave, em conjunto com todas as instituições, parceiros e câmaras; divulgar o papel do aço, promover a reindustrialização da América Latina, colaboração ativa em questões comuns como segurança, descarbonização, desenvolvimento comunitário e talentos industriais; e trabalhar com toda a cadeia de valor, porque juntos temos mais força”.
No segundo dia, destacou-se a participação da economista americana Shannon K. O'Neil, que se aprofundou na tendência de regionalização das cadeias de abastecimento globais. “Durante o período de globalização, a maioria das empresas expandiu-se para perto de suas operações domésticas. Assim, formaram-se três grandes regiões: América do Norte, Europa e Sudeste Asiático. A América Latina participou muito pouco. Hoje existe a oportunidade de voltar ao jogo devido à situação geopolítica”, ele afirmou.
Entendendo a importância da construção de cadeias de valor integradas e cada vez mais competitivas, Vagner Loyola, Diretor da Cadeia Integrada de Valor de Ferrosos da Vale, e Gustavo Salinas, Presidente da Toyota Argentina e membro do Conselho de Administração da Toyota América Latina e Caribe, trouxeram sua visão sobre expectativas e desafios compartilhados. “Na América Latina temos tudo para fabricar produtos siderúrgicos de alta qualidade e com menores emissões de CO2. Temos grandes reservas de minério de ferro no Brasil e de gás no Brasil e na Argentina, que possuem plantas de redução direta que operam há décadas.“, disse Loiola. Por sua vez, Salinas comentou: “O crescimento da indústria automotiva chinesa altera o comércio do setor. As marcas chinesas representam 20% da oferta e em 10 anos serão 30%. A Toyota tem uma participação de 11%. Isso nos obriga a melhorar a competitividade, como fazemos em nossas fábricas no Brasil e na Argentina˜, finaliza.
Para completar a análise sobre as perspectivas e desafios da siderurgia regional, foi realizado o painel de CEOs, com a participação de Jefferson de Paula, presidente da ArcelorMittal Brasil, CEO Aços Longos e Mineração LATAM, Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, e Máximo Vedoya, CEO da Ternium. “Penso que temos de ser cautelosamente optimistas. A indústria siderúrgica do Brasil e principalmente a do México estão promovendo fortes investimentos. Há potencial de crescimento no consumo per capita de aço”, observou de Paula, enquanto Werneck afirmou que “Os governos latino-americanos têm sido muito lentos na proposta de medidas eficazes para combater as importações desleais. Há um debate que deve crescer mais para que sejam implementadas medidas que combatam esta situação inaceitável.”.
A experiência industrial mexicana foi um painel de grande interesse, com a participação do economista Gerardo Esquivel e de Máximo Vedoya, presidente da Câmara da Indústria de Transformação (Caintra) de Nuevo León e CEO da Ternium. “O nearshoring, embora tenha uma importante componente geográfica, também depende de outros elementos. Diferentes países sul-americanos têm condições de beneficiar deste processo, tirando partido da colaboração inter-regional, especialmente se garantirem relativa estabilidade económica, política e social.”Esquivel destacou. Da mesma forma, Vedoya destacou que “O caminho do México demorou muito e não começou com o NAFTA ou com a rivalidade dos EUA com a China. “Tudo começou com o México fazendo política industrial desde 1985. Percebeu que o desenvolvimento industrial era a chave para o desenvolvimento económico de um país.”.
Para encerrar, foi realizada uma coletiva de imprensa da qual participaram Ezequiel Tavernelli e Martin Berardi, Presidente da Câmara Argentina do Aço e Presidente Executivo da Ternium Argentina, que destacou que “A industrialização não é uma questão de setores, mas de todos eles juntos. Temos que seguir uma agenda de cadeia de valor, não sectorial mas de industrialização fundamental, de competitividade”.
Além disso, vale destacar que no primeiro dia, no eixo “Mercados e Geopolítica no Aço”, o renomado economista Ricardo Amorim abordou o desafio da competitividade para a LATAM diante da ameaça chinesa. “O Brasil está muito bem posicionado devido à reforma tributária aprovada no ano passado. Embora seja totalmente implementado dentro de 10 anos, pode promover a reindustrialização. Oferece um potencial para aumentar a competitividade, uma vez que as despesas fiscais do resto da cadeia produtiva são consideradas um crédito. Portanto, quanto mais valor acrescentado, mais competitividade”ele explicou.
Da mesma forma, aconteceu o painel “Industrialização: um compromisso com o desenvolvimento econômico e social” com a apresentação de Rafael Lucchesi, Presidente do Conselho de Administração do BNDES e Diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI. “A agenda de descarbonização produtiva e transição energética é a grande oportunidade para o Brasil e a América Latina", notou, destacando que"Em dezembro, o Mercosul assinará um acordo com a UE. Temos de avançar com uma agenda de política industrial”.
A indústria siderúrgica na América Latina gera 1,4 milhões de empregos diretos e indiretos e é fundamental em diferentes setores econômicos estratégicos, como a construção, a indústria automóvel e a fabricação de máquinas e eletrodomésticos. No entanto, está ameaçado pela crescente importação de aço da China, que não cumpre as regras do mercado. No ano passado atingiram recorde histórico, próximo a 10 milhões de toneladas, o que representou um crescimento de 45% e gerou uma situação crítica para a indústria local.
A reconfiguração das cadeias de valor e a tendência à regionalização abrem novas possibilidades para a América Latina, que produz aço com uma das menores pegadas de carbono do mundo e que possui uma cadeia de valor metalúrgica competitiva e integrada.
Desde 1962, o congresso Alacero tornou-se o principal encontro da cadeia de valor da indústria siderúrgica latino-americana.